segunda-feira, agosto 31, 2020

No Meio da Quarentena

No meio da quarentena,

sempre com a sua cantilena

lá estava o cata-ventos

no canal da podridão,

onde só está quem faz figurão

e, entretanto, a criatura

que é ave rara sem cultura

grita slogans aos ventos

sem saber bem o que diz,

mas atiça multidões de nazis.

 

Para que serve uma canção

quando alguém ouve?

Para que serve a verdade

quando nunca houve?

Para que serve a razão 

se escondes o que crês?

O que é a Liberdade

se não sabes o que vês?

 

O mais bizarro de tudo isto,

nem Karl Marx e Jesus Cristo

sonhavam com o fanfarrão.

Longe é Abril de Zé Mário

quando tudo está ao contrário.

Já não bastava a pandemia

para fustigar a economia

e a espelhar a solidão,

cá suportamos o trapaceiro

que troca tudo por poleiro.

 

Para que serve uma canção

quando alguém ouve?

Para que serve a verdade

quando nunca houve?

Para que serve a razão 

se escondes o que crês?

O que é a Liberdade

se não sabes o que vês?

 

@João Garcia Barreto


Poema registado no IGAC

Autor representado pela Sociedade Portuguesa de Autores


https://linktr.ee/eusouogarcia

www.joaogarciabarreto.pt


sábado, julho 25, 2020

Pela Calada

Ando pela calada
em amor intermitente
ao teu redor, a desdenhar a mente
e penso em nada
quando tudo é iminente
e sei de cor o que quero mormente
e só não sei a solução da equação
do tempo que se agarra,
mas vou sem lei nem guru ou direcção
como o Mendrix vai na guitarra.

Não vivo açaimado 
a corroer o que não sou
ou acossado pelo mau vento que passou.
Parto acordado
a indagar onde vou
e cismado por saber onde estou
e só não sei a solução da equação 
do tempo que se agarra,
mas vou sem lei nem guru ou direcção
como o Mendrix vai na guitarra

("Like a Rolling Stone")

@João Garcia Barreto

Poema registado no IGAC
Autor representado pela Sociedade Portuguesa de Autores



A Phil Mendrix


sexta-feira, junho 19, 2020

Entre o Sonho e a Ilusão

Sou um sonho premente no país das ilusões,
onde reinam os papalvos e os intrujões.
Tu és o colírio que sara e sente as desilusões
de quem sofre de rinite e de convulsões.

Sou um lírio acossado no âmago da solidão,
onde jazem fantasmas que zombam sem razão.
Tu és o verso adorado do mais belo refrão
que o Boss soube escrever em canção.

Vem, Minha Amada,
lê a sina na mão,
o beijo é o fim da estrada
entre o sonho e a ilusão.

Fui um parto sem dor na terna ventura
e sou um espaço em branco do tempo que dura.
Tu és o sopro de amor que saneia a loucura
de quem vê na tua luz a sua cura.

Vem, Minha Amada,
lê a sina na mão,
o beijo é o fim da estrada
entre o sonho e a ilusão.


@João Garcia Barreto

Poema registado no IGAC
Autor representado pela Sociedade Portuguesa de Autores

www.joaogarciabarreto.pt


quinta-feira, maio 14, 2020

Dizes

Dizes que gostas de B Fachada
e dos cantores de longa estrada
que sabem contar o tempo
como quem relata belas histórias
ou aquelas que se velam nas memórias
ao livre sabor do vento.

Sabes que nada se faz em vão,
sobretudo uma canção
que é, decerto, a razão
de que o Mundo só pode mudar
quando alguém souber cantar
o que vai no seu coração.

Dizes que adoras o Godinho
e o Salvador que vem devagarinho
como quem ama pelos dois.
Gostas de dançar com o Benjamim,
de ouvir a Lena d'Água no jardim
e, de quando em vez, de chorar depois.

Sabes que nada se faz em vão,
sobretudo uma canção
que é, decerto, a razão
de que o Mundo só pode mudar
quando alguém souber cantar
o que vai no seu coração.

@João Garcia Barreto


sábado, janeiro 04, 2020

O Famigerado Quebra-Corações

Lá vai o famigerado
quebra-corações
a vaguear, enviesado,
a sonhar em todo o lado
e a provocar emoções.
Tem verve de poeta
e os olhos de Medusa.
Não é rei nem asceta,
é o alvo e a seta
ou farol de Lampedusa
e se, porém, a tua mão
se fechar na aurora,
é certo que o coração
se quebrou na solidão
e se refaz de amor agora.

E eis que o afamado
gingão das canções
exorciza o enfado
e afasta o mal-olhado
de quem crê em ilusões.
Tem rosto aluado
e lascívia de Primavera.
É cupido adorado
que sibila o bel fado
em busca de quimera
e se, porém, a tua mão
se fechar na aurora,
é certo que o coração
se quebrou na solidão
e se refaz de amor agora.


@João Garcia Barreto

Poema registado no IGAC
Autor representado pela Sociedade Portuguesa de Autores


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segunda-feira, dezembro 16, 2019

Fazedor de Canções

Em Londres sempre chove
quando o pêndulo se move
e o frio é tão voraz
que regela a escuridão
sobre a cidade da ficção,
onde tudo é fugaz
e um afamado trovador
já prolifera o amor
que escreve no folhetim
à espera que a tua mão
se abra num só refrão,
cantado no teu jardim.

Fecha bem a porta à solidão
e não te apegues às desilusões.
Dá, então, abrigo ao coração
de um fazedor de canções

É certo que há razão
por que palpita o coração
de um ávido poeta
que não teme o abismo
e antevê o cataclismo
com a ponta da caneta,
gosta de cambiar o Mundo
e em apenas um segundo
parte e deixa a sua metade
e não haverá uma hecatombe
nem uma alma só que zombe,
porque regressa na saudade.

Fecha bem a porta à solidão
e não te apegues às desilusões.
Dá, então, abrigo ao coração
de um fazedor de canções.

@João Garcia Barreto


Poema registado no IGAC
Autor representado pela Sociedade Portuguesa de Autores

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terça-feira, novembro 05, 2019

O Amor Não se Empresta

Escrevo-te, de novo, na ausência dos dias,
onde pernoito devagar.
Dói-me a saudade de querer-te em mim.
Revejo-te no que no leito não dizias
e beijo-te sem cessar.
Perco-me na memória por te ansiar assim.

Bebo-te em tragos lentos na contradança
que forjámos aqui.
Sinto a brisa do teu corpo no quarto deserto.
Espero-te na noite, onde a Lua balança,
depuro-te no que vivi
e lembro-te na despedida no lugar incerto

e o tempo que sentes
preso no silêncio das mãos prementes
é tudo aquilo que nos resta,
tu sabes, o Amor não se empresta.

@João Garcia Barreto

Poema registado no IGAC
Autor representado pela Sociedade Portuguesa de Autores

quinta-feira, outubro 10, 2019

Canção que Somos

Meu Bem, 
nada a não ser o tempo 
que se esvai com o vento 
anuncia o fim da estrada. 
Basta viver o que somos 
e abarcar o que sempre fomos 
quando juntos pensamos em nada. 
Tu sabes, 
o poema que fomos outrora 
e a canção que somos agora 
são a luz que permanece 
na quimera do nosso olhar 
que reluz em qualquer lugar, 
onde tudo ou nada se esvanece 
e eu sei que a vida se faz com vagar 
que o tempo vem e não sabe esperar 
e tudo o que temos 
é o que não vamos largar 
por quem fomos, 
sempre somos 
e seremos a vaguear.

Meu Bem, 

o corpo que não te nego 
e o instante que, hoje, te lego 
são a certeza de que a ilusão 
é assaz difícil de calcular, 
como se fosse possível determinar 
o valor do que lateja no coração! 
Tu sabes
que sou um estranho fado 
de Cohen não saciado 
com mil canções por forjar 
ou um Renoir impressionado 
de semblante aluado 
com a tua silhueta por matizar 
e eu sei que a vida se faz com vagar 
que o tempo vem e não sabe esperar 
e tudo o que temos 
é o que não vamos largar 
por quem fomos, 
sempre somos 
e seremos a vaguear.

@João Garcia Barreto


Aos Meus Pais e ao casal José Covas e Nuno Pombal

Poema registado no IGAC
Autor representado pela Sociedade Portuguesa de Autores

segunda-feira, setembro 23, 2019

Cigarra no Outono

Faço-me, hoje, à estrada
como quem tem nada
e ousa cotejar o vento.
A sorte é de quem sonha
e a desdita é peçonha
para quem não lê o tempo.
"A gente vai continuar",
canta o Palma sem cessar
e dou tréguas à solidão.
Vou já na valsa da vida
sem pejo nem medida
(não tem métrica uma canção)
e só espero encontrar
o esplendor do teu olhar.

Deixo-me ir na travessia

como quem abraça o dia
e se afasta da torrente.
O relógio não cessa,
mas vivo sem pressa
na urgência de quem sente.
O Dylan a sussurrar
e o Inverno a chegar!
É certo que esperas por mim.
Como a cigarra no Outono,
cantarei no teu sono
melodias de amor sem fim
e só espero desvendar
o esplendor do teu olhar.

E se o tempo é o chão

onde desbravo a canção,
eu hei-de abraçar-te, enfim.
Como a cigarra no Outono,
pousarei no teu sono,
onde já suspiras por mim
e só espero contemplar
o esplendor do teu olhar.

@João Garcia Barreto

Poema registado no IGAC
Autor representado pela Sociedade Portuguesa de Autores