domingo, julho 31, 2005

Nasce Selvagem

Recordo-me do tempo pueril que vivi e das inúmeras canções que armazenava dentro de mim e que faziam parte do meu universo utópico, onde teimava vogar sem cessar. Rui Veloso, Jorge Palma, Sérgio Godinho, Fausto, Zeca Afonso, Trovante, Xutos & Pontapés, Sétima Legião, Heróis do mar, GNR, Resistência, Delfins, Fernando Girão e Lua Extravagante eram os artistas nacionais que detinham a maior participação do meu ledo assobio. Mais tarde, Pedro Abrunhosa insurgiu-se na atmosfera musical portuguesa, que se corroía morosamente e se tornava cada vez mais comercial e menos cultural, rejuvenescendo-a com os seus poemas adornados por palavras sublimes e envoltos nas infinitas e inauditas melodias e fortificando a raiz da música portuguesa arada pelos cantores da revolução já referidos. E o tempo passa e surgem outros nomes de referência: David Fonseca, Toranja, D'Weasel, Blind Zero, Mesa, Donna Maria...
Assim, partilho convosco uma canção que sibilo e armazeno desde a minha infância e, hoje, talvez esquecida pelo comercialismo que domina a música portuguesa...

Mais do que a um país
que a uma família
ou geração

Mais do que a um passado
Que a uma história
ou tradição

Tu pertences a ti
Não és de ninguém

Mais do que a um patrão
que a uma rotina
ou profissão

Mais do que a um partido
que a uma equipa
ou religião

Tu pertences a ti
Não és de ninguém

Vive selvagem
E para ti serás alguém
Nesta viagem

Quando alguém nasce,
Nasce selvagem,
Não é de ninguém...

Quando alguém nasce,
Nasce selvagem,
Não é de ninguém...

Miguel Ângelo e Fernando Cunha

sexta-feira, julho 22, 2005

Lisboa Que Amanhece

Cansados vão os corpos para casa
dos ritmos imitados de outra dança
a noite finge ser
ainda uma criança
de olhos na lua
com a sua
cegueira da razão e do desejo

A noite é cega e as sombras de Lisboa
são da cidade branca a escura face
Lisboa é mãe solteira
amou como se fosse
a mais indefesa
princesa
que as trevas algum dia coroaram

Não sei se dura sempre esse teu beijo
ou apenas o que resta desta noite
o vento enfim parou
já mal o vejo
por sobre o Tejo
e já tudo pode ser tudo aquilo que parece
na Lisboa que amanhece

O Tejo que reflecte o dia à solta
à noite é prisioneiro dos olhares
ao cais dos miradouros
vão chegando dos bares
os navegantes
amantes
das teias que o amor e o fumo tecem

E o Necas que julgou que era cantora
que as dádivas da noite são eternas
mal chega a madrugada
tem que rapar as pernas
para que o dia não traia
Dietrichs que não foram nem Marlenes

Não sei se dura sempre esse teu beijo
ou apenas o que resta desta noite
o vento enfim parou
já mal o vejo
por sobre o Tejo
e já tudo pode ser tudo aquilo que parece
na Lisboa que amanhece

Em sonhos, é sabido, não se morre
aliás essa é a única vantagem
de, após o vão trabalho
o povo ir de viagem
ao sono fundo
fecundo
em glórias e terrores e venturas

E ai de quem acorda estremunhado
espreitando pela fresta a ver se é dia
a esse as ansiedades
ditam sentenças friamente ao ouvido
ruído
que a noite, a seu costume, transfigura

Não sei se dura sempre esse teu beijo
ou apenas o que resta desta noite
o vento enfim parou
já mal o vejo
por sobre o Tejo
e já tudo pode ser tudo aquilo que parece
na Lisboa que amanhece

Sérgio Godinho

segunda-feira, julho 11, 2005

Redemption Song

Como "em qualquer aventura, o que importa é partir não é chegar", cotejo estoicamente novos e inauditos desafios que vida oferece sem cessar... No entanto, o âmago dilata-se com as canções que se insurgem num piano noctívago, onde os dedos das minhas mãos desertas deslizam em sustenidos, bemóis e bequadros espraiados no seu plaino branco e preto. E, outras canções perenes surgem no espaço profundo aquando o piano sussurra ao ouvido... So, "Won't you help to sing..."

Old pirates, yes, they rob I;
Sold I to the merchant ships,
Minutes after they took I
From the bottomless pit.
But my hand was made strong
By the 'and of the Almighty.
We forward in this generation
Triumphantly.
Won't you help to sing
These songs of freedom? -
'Cause all I ever have:
Redemption songs;
Redemption songs.

Emancipate yourselves from mental slavery;
None but ourselves can free our minds.
Have no fear for atomic energy,
'Cause none of them can stop the time.
How long shall they kill our prophets,
While we stand aside and look? Ooh!
Some say it's just a part of it:
We've got to fulfil de book.

Won't you help to sing
These songs of freedom? -
'Cause all I ever have:
Redemption songs;
Redemption songs;
Redemption songs.

Emancipate yourselves from mental slavery;
None but ourselves can free our mind.
Wo! Have no fear for atomic energy,
'Cause none of them-a can-a stop-a the time.
How long shall they kill our prophets,
While we stand aside and look?
Yes, some say it's just a part of it:
We've got to fulfil de book.
Won't you help to sing
Dese songs of freedom? -
'Cause all I ever had:
Redemption songs -
All I ever had:
Redemption songs:
These songs of freedom,
Songs of freedom.

Bob Marley

segunda-feira, julho 04, 2005

Destino na mão

Enfim, passaram-se 4 anos de folia e de algum árduo estudo. Com o destino na mão e o estro endógeno num âmago emancipado, parti, encontrando-me, hoje, imerso na nostalgia oriunda dos tempos académicos que vivi no ISCTE, onde vicejaram inúmeras relações amistosas e dilataram-se sonhos, aquando o tempo evanescia... Resta-me homenagear quem nunca me repudiou e sempre alimentou o desejo, proporcionando o ensejo e corroborando a vontade de pugnar pelo tempo que se vive.

A vós, Anjos Perenes