sexta-feira, dezembro 24, 2004

Natal

Quem acredita ainda em seres criados por empresas magnificientes como os célebres Pai Natal e Leopoldina, que alimentam as crianças com ilusões, desiluda-se... O Pai Natal é demasiado alentado e não cabe na chaminé e as avestruzes não sabem voar... O Mundo é atroz, soturno e só nós, camaradas "bloguistas", podemos salvá-lo com o nosso revólver estrógeno. Será que alguém sabe o que tacitamente transmite o Natal? Poucos detêm esse conhecimento... Uns preocupam-se com o orçamento, aproveitando o que vários portugueses acumularam durante a sua vida profissional, de modo a não violar o que está pré-estabelecido para a estabilidade da comunidade europeia e outros preocupam-se em fazer demagogia. Belo Mundo em que vivemos... Dissipem beijos e abraços álacres e feéricos, evidenciando o que realmente sentem e promovendo o genuíno significado do Natal.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Pêndulo

Parece que faz hoje 23 anos que pousei pela primeira vez nos braços da magnanimidade de dois seres inauditos. Nasci num berço abençoado... Nos tempos em que a minha rebeldia se manifestava desenfreadamente,os dois seres inauditos enfrentavam mágoas provocadas pela ingenuidade da genuína juventude em que julgava que superava todos os embargos causados pela vida na ausência de auxílio. Ocultavam máculas oriundas do céptico amor que não se definia na minha mente ainda pueril. Hoje, calcorreio as ruas de Lisboa absorto nesse tempo atroz. Mas, caro João, o pêndulo continua a regular o movimento do relógio e o amor perdura nos âmagos dos seres sublimes que te perfilham... Num beijo álacre cedido pela rainha mais bela do Universo e num abraço apertado de um rei benigno, sinto o etéreo perdão no meu genuíno coração...

Muito Obrigado

domingo, dezembro 19, 2004

Aerograma

Deus queira que esta
Vos mate a fome aos sentidos
Por agora

Deus queira que esta
Vos guarde a dor aos gemidos
Noite fora

Dançamos fandangos
Sobre uma navalha
Pássaros em bando
Em nuvens de limalha

E assim eu cá vou indo.

Vem-me o fel à boca
As tripas ao coração
A noite traz a forca pela sua mão

Sonho com fantasmas
De pele preta e luzidia
Com manuais de coragem e cobardia

Dizem que há sempre
Um barco azul para partir
Nosso hino
Embarca a alma
E os restos de um rosto a sorrir
Do destino

Põe o meu retrato
No altar de S. João
E uma vela com formato de canhão

Cansa-se esta escrita
Com dois dedos num baraço
Assim o quis a desdita
Vai um abraço.

João Monge

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Perguntas de um Operário Letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis.
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas reconstruiu? Em que casa
Da Lima dourada moravam os seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China
Para onde foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias.
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a Guerra dos Sete Anos.
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas...

Bertolt Brecht
( Selecção e estudo de Arnaldo Saraiva )

terça-feira, dezembro 07, 2004

O Poema Original

Não sou poeta... Simplesmente, aventuro-me no universo das palavras...

Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutra pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse ao abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever em sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte
faz devorar em jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce à rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chega ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.

Esse que despe a poesia
como se fosse mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.

José Carlos Ary dos Santos

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Águia-Real

Madrugara do galarim da serra,
A Águia-Real que se esmerava no firmamento
E que acompanhava o voo do rapino.

Modulou à noite no confim da Terra,
A melodia que embalava o seu rebento
E que desvendava a rota do seu destino.

Madrugará sempre do galarim da serra,
A Águia-Real que gerou o portento
E que, sublime, desfilará no plaino divino...


A quem dedico o poema? Não, é dificil...

segunda-feira, novembro 29, 2004

Cúmplices

A noite vem às vezes tão perdida
E quase nada parece bater certo
Há qualquer coisa em nós inquieta e ferida
E tudo o que era fundo fica perto

Nem sempre o chão da alma é seguro
Nem sempre o tempo cura qualquer dor
E o sabor a fim do mar que vem do escuro
É tantas vezes o que resta do calor

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Senenhum de nós se sentisse nunca sozinho

Trocamos as palavras mais escondidas
Que só a noite arranca sem doer
Seremos cúmplices o resto da vida
Ou talvez só até amanhecer

Fica tão fácil entregar a alma
A quem nos traga um sopro do deserto
O olhar onde a distância nunca acalma
Esperando o que vier de peito aberto

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho

Mafalda Veiga

À amizade, por ser genuína...

sábado, novembro 27, 2004

Chave dos Sonhos

Luz sai da frincha, é manhã
Sei que o dia já desarvora
Chave dos sonhos na mão
Olho-te e vais embora

Sais pela rua velo
Sinto a brisa do teu corpo perto
Chave dos sonhos guardei
No quarto já deserto

Passei a noite em claro
Passei p'la noite em ti
E abri com a chave dos sonhos
A porta e a varanda que em sonhos abri

São mais confusas agora
As imagens que em ti eu tocava
Eram do sonho ou de olhar
O que o prazer mostrava ?

Chave dos sonhos na mão
Entrarei em qualquer fechadura
P'ra lá da porta, o melhor
É sempre da aventura

Guardo com a chave dos sonhos
Segredos que o corpo merece
Se alguém não quis arriscar
Então que o não tivesse

Ontem arriscaste mais
Do que uma simples coisa exigia
Deste-me a chave dos sonhos
O caos e a harmonia

Sérgio Godinho

segunda-feira, novembro 22, 2004

Dissipação

Um olhar vago
Como um dia que resiste ao dia à luz da noite.
A beleza por detrás do olhar vazio
E a espera morta nos lábios.
Nas páginas brancas
Um choro de chuva branca
Pela tua voz parada.
Um medo pela palavra proferida
Quando anoitece.
E dentro dos meus dedos,
As palavras para te chorar
Quando não estás.
A escuridão dentro da escuridão de um beijo
Em que o toque foi, apenas, ensejo de te ver...

Vanessa Pelerigo

Obrigado pela eterna amizade, Princesa de Éden

Poema gentilmente oferecido pela autora.

quinta-feira, novembro 18, 2004

Fada do Tempo

Desvendei-te na friagem da noite, quando as asas se quebraram de tanto sobrevoar as lacunas veladas no Mundo. Amainaste os vendavais que pareciam infindáveis e aconchegaste-me no regaço, onde ainda teimo em repousar. Transfiguraste-me… Inverteste a dolência de um anjo enfadonho, emancipando-o com o alento que transborda de ti…
Talvez sejas dona do tempo e saibas inverter sortilégios… De que terno sonho vieste? De que eterno conto surgiste?
Insurgiste-te nos nefastos pesadelos, que me corroíam inexoravelmente, cobrindo-me com um invólucro feérico. Cristalizaste o tempo no âmago de uma espécie de actor ou de poeta do Amor, oferecendo-lhe hipérboles, metonímias e metáforas sem fim. Com as tuas asas, sou dono do céu… De que noite irrompi? De que sonho renasci? De ti, Fada do Tempo…

Obrigado, Mãe…

quarta-feira, novembro 10, 2004

O Relógio ( adereço conceptual para usar no pulso )

Um poeta é um ser pródigo, que transporta no âmago a filantropia. Engendra as mais belas histórias, ejaculando palavras no tempo... Decerto que é imortal... Todas as suas palavras respiram num pedaço de papel eterno...


Pára-me um tempo por dentro
passa-me um tempo por fora.

O tempo que foi constante
no meu contratempo estar
passa-me agora adiante
como se fosse parar.
Por cada relógio certo
no tempo que sou agora
há um tempo descoberto
no tempo que se demora.

Fica-me o tempo por dentro
passa-me o tempo por fora.


José Carlos Ary dos Santos

sábado, novembro 06, 2004

Excessos de um Artista

Devo admitir que "estigma" é um termo muito forte para se aplicar a quem é um símbolo da música portuguesa, embora não quisesse com isso depreciar o artista mencionado no post anterior. De facto, Pedro Abrunhosa marcou intensamente o desenvolvimento da canção nacional, que necessitava de ser remodelada, já que se tornava uma constante imutável ( vira o disco e toca o mesmo...). Em Portugal, só se escutava os mesmos compositores credenciados, os únicos que se dignavam a pugnar contra a "pimbalização" da música nacional. Ainda me recordo da irreverência dos GNR e dos Mão Morta e do infeliz desvanecimento de grandes bandas como os Heróis do Mar, os Jáfumega e os Sétima Legião. Enfim, alguém tinha de incitar a música nacional, o que os outros artistas não estavam a conseguir...
À medida que o tempo passa, é mais notória a cicatriz marcada pelo desmesurado artista. Ora vejamos... O mercado abriu-se... D'Weasel, Ornatos Violeta, Yellow W Van, Toranja, Blind Zero, Belle Chase Hotel, David Fonseca e os Silence 4 insurgiram-se no panorama musical português,corroborando o que Pedro Abrunhosa e outros compositores defendiam. No entanto, a "pimbalização" continua a fazer estragos... Foi, neste sentido, que utilizei o termo "estigma"...
"Como uma ilha" é um momento invertido em forma de canção, pois acredito que o sujeito poético quis transmitir a segurança ao destinatário do poema, que se fragilizava na solidão. No fundo, acredito que ambos se encontram inseguros, embora considere que o sujeito poético saiba simular perfeitamente, já que "o poeta é um fingidor"...
Contudo, admito que tenho um dom para imiscuir as coisas e, torná-las, por isso, promíscuas. São os "excessos de um artista" como diria Carlos Tê...

A quem visita regularmente este espaço... Obrigado.

sexta-feira, novembro 05, 2004

Como uma ilha

Pedro Abrunhosa é um dos artistas mais carismáticos da actualidade, que se digna a digladiar pela música que se cria em Portugal. Tem um currículo invejável e o dom de eternizar momentos invertidos em forma de canção. "Como uma ilha" é só um exemplo do que pode ser uma canção perene criada por um estigma da música actual em Portugal...


Tu és todos os livros,
Todos os mares,
Todos os rios,
Todos os lugares.
Todos os dias,
Todo o pensamento,
Todas as horas
O teu corpo no vento.
Tu és todos os sábados,
Todas as manhãs,
Toda a palavra
Ancorada nas mãos.
Tu és todos os lábios,
Todas as certezas,
Todos os beijos
Desejos, princesa.

Como uma ilha,
Sozinha...

Prende-me em ti,
Agarra-me ao chão,
Como barcos em terra
Como fogo na mão,
Como vou esquecer-te,
Como vou eu perder-te,
Se me prendes em ti,
Agarra-me ao chão,
Como barcos em terra,
Como fogo na mão,
Como vou eu lembrar-te
Se a metade que parte
É a metade que tens.

Tu és todas as noites
Em todos os quartos,
Todos os ventos
Em todos os barcos.
Todos os dias
Em toda a cidade,
Ruas que choram
Mulheres de verdade.
Tu és só o começo
De todos os fins,
Por isso eu te peço
Fica perto de mim.
Tu és todos os sons
De todo o silêncio,
Por isso eu te espero
Te quero e te penso.

Como uma ilha,
Sozinha...


Pedro Abrunhosa

quarta-feira, novembro 03, 2004

Que Amor não me engana

José Afonso é a referência que detenho para manifestar tudo o que armazeno no meu âmago estrógeno. Insurgiu-se num regime totalitário, onde dissipou inúmeras baladas que criou com a sua voz peculiar ladeada da sua fiel guitarra... Por onde caminhas, grande Zeca? Tu, que ansiavas a revolução como ninguém.... Eu, que não te conheci... Assim, o tempo não anuiu...


Que amor não me engana
Com a sua brandura
Se da antiga chama
Mal vive a amargura...

Numa mancha negra,
Numa pedra fria,
Que a amor não se entrega
Na noite vazia...

E as vozes embargam
Num silêncio aflito.
Quanto mais se apartam,
Mais se ouve o seu grito...
Muito à flor das águas,
Noite marinheira,
Vem devagarinho
Para a minha beira...

Em novas coutadas
Junto de uma hera,
Nascem flores vermelhas
Pela Primavera.

Assim tu souberas,
Irmã cotovia,
Dizer-me se esperas
O nascer do dia...

E as vozes embargam
Num silêncio aflito,
Quanto mais se apartam,
Mais se ouve o seu grito...
Muito à flor das águas,
Noite marinheira,
Vem devagarinho
Para a minha beira...


José Afonso

sexta-feira, outubro 29, 2004

Tudo o que eu te dou, tu me dás a mim

Sempre que escuto esta canção, debruço-me sobre o sentido da vida. Talvez seja a acção recíproca que se estende no verso principal da canção: “Tudo o que eu te dou, tu me dás a mim...”. O que é verdade é a forma como tu me afagas neste mundo cada vez mais iníquo, oferecendo-me a essência da vida como armadura para me sentir salvaguardado. Resta-me, assim, manifestar o meu profundo agradecimento, oferecendo-te o tempo evanescente, mas paradoxalmente invertido em forma de eternidade.
E é importante a reciprocidade dos sentimentos no meio envolvente... Hoje, a reciprocidade dos sentimentos extingue-se fugazmente, enquanto que o Mundo se esquece que é nas suas lacunas que ela perdura. Indago em cada lacuna do Mundo o amor espalhado por algum Messias redentor. Sigo sozinho o meu caminho, escutando a toada que sibila dentro de mim, cuja melodia é longa e serena.
Neste antro de promiscuidade, a ínfima coisa com idoneidade de transfigurar o tempo é o que existe em ti e que te corrobora - a indulgência.
Confesso-te que o teu jeito angelical é mágico... Colocas a Lua nas noites escuras para que ilumine os trilhos já traçados. Em dias pardacentos, surges na bruma como se fosses D.Sebastião... E o único modo de te agradecer é ser recíproco... Nasci no peito de amor de um rei... Sempre terás tudo aquilo que me ofereceste...

Obrigado, Pai.

segunda-feira, outubro 25, 2004

Cruz Alta

"Cruz Alta" é o galarim da serra de Sintra, sito no parque coutado do Palácio da Pena. Quem tiver a honra de o visitar, poderá desfrutar da beleza natural, que o rodeia. É um refúgio dedicado aos poetas, aos mais românticos e aos amantes da fotografia, que oferece estro, magia e o ar genuíno da atmosfera sérrea.


Ficou a promessa
Onde o Céu se une com a Terra,
Tão perto da Lua que regressa
Aos encantos do palácio e da serra.

Ficou a promessa
Lá no cume onde Deus pousou,
Tão perto do Sol que regressa
Aos braços de quem o ressuscitou.

E só a morte, por ser forte,
Matará o sonho
Preso naquele lugar.
E só a morte, por ser forte,
Matará quem
Viu ali o teu olhar.


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

terça-feira, outubro 19, 2004

Será que existe censura?

Há uns tempos atrás, o “Público” editou uma efeméride abominável, onde revelava o facto de um insigne compositor ter sido desconvidado para a inauguração do novo espaço cultural do Porto pela própria administração do local. Segundo consta no artigo, o compositor irreverente foi alvo de repúdio, devido às declarações que tinha proferido anteriormente contra o actual presidente do município portuense. Mais tarde, dois comentadores mediáticos foram intimidados a moderar os seus próprios discursos pelo presidente da estação de televisão que representavam, o que levou à evasiva de um dos comentadores. Parece que o presidente da estação de televisão foi obrigado por coacção a actuar de tal forma pelo Exmo. Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares.
Já não bastava a exoneração dos benefícios fiscais dos planos de poupança decretada pelo Exmo. Sr. Ministro das Finanças, o que enfraquece a parcimónia exercida pelos cidadãos comuns? Já não bastava a implementação de taxas moderadoras nos estabelecimentos de saúde ou a criação de novas portagens? Já não bastava a existência de três tipos de professores: os colocados, os não-colocados e os mal colocados? Já não bastava as verborreias proferidas pelos políticos demagogos, populistas e anti-democratas do “continente” e do arquipélago da Madeira? Ao menos, cá nos contentávamos só com isso… Não, só isso não chega… Censuraram quem não se calava… Será que retornámos à repressão exercida pelos regimes fascistas de António Oliveira Salazar e Marcello Caetano? Eis o regresso da censura a Portugal…Escusava de hiperbolizar, mas a conjuntura política não me oferece outra alternativa…
De facto, existem pessoas retrógradas e acéfalas, autênticos lacraus fúteis, que deviam ser urgentemente exonerados do lugar que ocupam. Isto é a evidência de que existe um autêntico absentismo de dignidade e respeito pelo português democrata – aquele que elege por sufrágio nacional. Talvez o Exmo. Sr. Presidente da República perceba que fomos de mal a pior…
No entanto, o vulgo português vinga-se do flagelo económico com o “reality show”, onde deambula um hermafrodita mirabolante, que se pavoneia diante das câmaras. Eis o “estado” em que sobrevivemos…

sábado, outubro 16, 2004

A Sombra do Beijo

Escrevi este poema a pedido de um manager insigne, que ainda hoje se enquadra no júri de um programa de uma estação de televisão privada. O gestor de carreiras musicais pretendia que o poema fosse integrado numa melodia já forjada por um finalista da 1ª. versão do mesmo programa. Segundo o manager, a letra escrita pelo neófito do programa televisivo não passava de um registo de verborreias criadas por um "azeiteiro". À posteriori, aquilo que constatei era inexoravelmente exíguo. No entanto, o jovem cantor repudiou a minha gentil dádiva. Talvez o meu poema não tivesse também o devido valor...


De mãos dadas, vagueamos na rua
Presos às palavras que ambos dizemos...
Nem sequer notamos que o momento que se oculta
É o refúgio daquilo que ambos sabemos...

Será a sombra do beijo
Que, no silêncio, se quer soltar?
Será a sombra do beijo?

Desvendamos segredos escondidos no pó,
Enquanto passeamos no outro lado do Mundo.
E o tempo prende-se na solidão das palavras
Como se fosses Princesa e eu, vagabundo...

Será a sombra do beijo
Que, no silêncio, se quer soltar?
Será a sombra do beijo?

As horas passam e os minutos evanescem,
Enquanto realçamos o que ambos sabemos.
E os sorrisos fugazes que desaparecem
São a senha daquilo que juntos seremos...

Será a sombra do beijo
Que, no silêncio, se quer soltar?
Será a sombra do beijo?


Poema registado na Sociedade Portuguesa de Autores

terça-feira, outubro 12, 2004

Doce Ensejo

Uma canção é uma dança entre duas vertentes estrógenas, que se coadunam. É uma espécie de magnetismo entre a Música e a Poesia... Um poema surge do ensejo que se insurge no silêncio e, em cada palavra sua, vela-se uma semínima escrita numa partitura... Sibilo as palavras que crepitam no coração e escrevo-as numa folha em branco eterna, onde revelo o doce ensejo...


Insurge-se o ensejo no silêncio do tempo
E a mão aberta que se quer fechar,
Enquanto dançamos na avenida
Antes da manhã regressar.

Desvendo o desejo que se oculta em ti
Na solidão das palavras que recitas
E prendo-me nas teias dos sorrisos
Que, na avenida, dissipas.

E a noite evanesce...
E o tempo permanece em mim...

E se a Lua adormecer,
Sei que me beijas ao amanhecer...
E se o Sol despertar,
Sei que a mão se vai fechar...

Sibila na avenida o doce desejo,
Que se oculta no sopro do vento
E persigo as palavras que soltas
E que balançam no momento.


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

sábado, outubro 09, 2004

Advogo

Observa-se a genuína retórica endógena dos principais intervenientes da conjuntura política portuguesa. Talvez estejamos novamente diante de um estado de repressão... A censura instalou-se de novo em Portugal... Alguém me leve abruptamente daqui...


Advogo a filantropia...
Não ignoro a caducidade,
Observo o Mundo de noite e de dia
E vejo sempre a claridade...

Não advogo a retórica,
Nada é objecto de persuação...
A política é alérgica
À filosofia da razão...

Advogo o teu ser,
A tua luz que me ilumina
Como a tua arte
Escondida que me fascina...

Advogo o vento
Que sopra a melodia natural,
Não sendo concebida à pressão,
Apresenta-se num momento casual...


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

segunda-feira, outubro 04, 2004

Beijo da Eternidade

Eis a hora do regresso... Preparo o meu leito alado e implume para retornar ao lugar, onde te desvendei...onde eternamente repousarei...


Tudo o que vejo não é miragem,
Tudo o que desvendo na minha alma
Perdura na essência da imagem
Do Mar que nos acalma.
Tudo o que sinto na realidade,
O que armazeno na arca sincera ,
Transfigura a doce saudade
Numa rosa da Primavera.
Tudo o que em mim flameja,
Tudo o que em mim é fecundo,
É a Música que me beija
Numa lacuna do Mundo
Tudo o que perdura nas páginas da verdade,
Tudo o que existe e não tem fim,
Fortalece a doce saudade,
Beijo da Eternidade em mim.

E tudo o que vês não é submerso...
A imagem que observas é o regresso...

De novo, perto de mim,
Observas o Horizonte,
Se eu a ti retornei
Foi da água que bebi na fonte.
Estava escrito nas lajes
Da fonte em que bebi,
O segredo que desvendei
Para repousar hoje, aqui.


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

sexta-feira, outubro 01, 2004

No Voo de um Anjo

Recolho as palavras inauditas, que se velam num baú, libertando-as num pedaço de papel em formato de poesia, onde traço o sonho... E a música surge da aglutinação entre a melodia das palavras e a harmonia que a envolve... Da atmosfera nocturna, surge o anjo, que une o sonho com a realidade. Libertem a música que se oculta endogenamente em vós e subam a escada da vida, degrau a degrau, com a realidade no olhar e o sonho no coração. "How wonderful life is while you're in the world"... Com um verso de Bernie Taupin, escrito num poema eternizado por Sir Elton John, homenageio a sublime vertente artística - Música.


Da janela do quarto,
A tua fobia suspirava...
Esperavas pelo anjo,
Que tardava.
E dos jardins de Éden,
Irrompe num voo inaudito,
O anjo que aguardavas
No teu lugar interdito.

E no silêncio do quarto,
Só o teu esgar não negou
A Eternidade de um beijo
De quem ao momento se entregou.
E com o desvelo de um abraço
De um anjo eterno que voou,
Imunizaste no leito
O amor que, no quarto, deixou.

No voo de um anjo,
Onde flutuavas,
Desarvorou a dolência
Que tanto exorcizavas.
E no parapeito do postigo,
Lá se despediu
O teu anjo perene
Que só o teu olhar viu.


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

terça-feira, setembro 28, 2004

Arlequim - O Anjo do Mar

Mergulho na noite e vislumbro as imagens veladas no sonho. Usurpo ingenuamente as palavras que repousam nos dicionários e escrevo-as num pedaço de papel, onde solto a fantasia emaranhada em mim. E tudo se sobressai do sonho... Nasci do amor de uma das imensas praias do Mundo... Sou filho da Areia e do Mar... Talvez seja uma canção escrita num momento no tempo...


Navegou os sete mares
E naufragou no teu olhar.
Perdeu-se na ilha dos amores
E ofereceste-lhe asas para voar.

Rastejaste-lhe até ao fim
Com o teu sorriso peculiar,
Riste do Arlequim
Que sorria ao sonhar.

E com as asas douradas,
Devolveste-lhe o respirar.
E quando voa, sobrevoa
No brilho do teu olhar.
E com as asas douradas,
Devolveste-lhe o respirar.
E quando voa, sobrevoa...
É o teu anjo do mar.

A magia da cor
Que faz os seus olhos relampejar,
Purificou a dor,
Prontificando-lhe o mar.

E com o rosto moldado,
Regressando sempre ao mesmo cais,
Parte para todo o lado
E amaina todos os vendavais.


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

sábado, setembro 25, 2004

Casa da Música

Ao visitar o web site do Pedro Abrunhosa, constatei que o compositor foi desconvidado para a inauguração da Casa da Música pela administração da mesma. Segundo consta no "Público", foi pelas declarações proferidas anteriormente pelo músico contra o actual presidente da Câmara Municipal do Porto... Afinal, retornámos à repressão exercida pelos regimes fascistas de António Oliveira Salazar e de Marcelo Caetano? De facto, existem pessoas retrógradas e acéfalas - autênticos lacraus fúteis da sociedade - que deviam ser urgentemente exonerados do lugar que ocupam. Isto é a evidência de que existe um autêntico absentismo de dignidade e respeito pelo português democrata - aquele que elege por sufrágio nacional. Eis o estado em que sobrevivemos... Sinceramente, não me recordo de ter elegido o actual primeiro-ministro. Alguém se recorda? Assim, talvez o presidente da República reconheça que fomos de mal a pior... " Ai, Portugal, por onde me levas... "

quinta-feira, setembro 23, 2004

Um Arauto de Éden

"Hoje, sou dono do Céu sem o querer ultrajar..." No meu leito alado e implume, viajo por paisagens quiméricas, idealizando momentos perenes. Sou um arauto de Éden, que sobrevoa a avenida, escutando a voz pungente que soa e se propaga na noite. Indago o lugar onde a voz urge, vasculhando cada lacuna da cidade, na qual se vela uma sublime palavra...um belo sentimento... Vislumbro o fulgor produzido pelo reflexo de uma lágrima dissipada num singelo parapeito de um postigo, onde surge o esgar taciturno de uma princesa desesperada.
" Luz, sai da frincha, é manhã, sei que o dia já desarvora..." E os sonhos não têm fim como as histórias que invento...


De tanto sobrevoar,
Indaguei uma lacuna no Mundo,
Em cada espaço, uma candeia acesa...
Em cada toada, um grito profundo...
Encontrei um postigo aberto
E pousei no seu parapeito,
Soltei um sopro nevado,
Logo, surgiu o teu esgar desfeito.
Porque planges na madrugada?
Porque deturpas a alvorada ?

Sou um arauto de Éden
Que, no teu quarto, veio repousar.
E desvendo o teu horizonte
No esplendor do teu olhar.
Escuta a doce melopeia,
Que sibila dentro de ti,
Torna perene o momento
E a missiva que deixo aqui...


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

segunda-feira, setembro 20, 2004

Menina de Olhar o Mar

"Mais uma noite a vencer..." Revejo-me nos mais sublimes momentos que passei no tempo que já vivi. Surgiu dos sonhos uma menina que se perdia a observar o Mar, escutando as palavras que o Zéfiro da maresia soltava. Menina de Olhar o Mar,os sonhos não têm fim...


Menina de Olhar o Mar,
Que escutas no zéfiro da maresia
As plácidas palavras que te conduzem
Ao culminar da porfia.
Entrega-te ao vento
Como um veleiro no alto mar,
Que desliza em perpétuo movimento
Até um dia se ancorar.

Menina de Olhar o Mar,
Desfruta o viço da maresia
E voa com asas implumes
Para os confins da Fantasia.


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

sábado, setembro 18, 2004

Fecha-se a mão ao adormecer

"Loucas são as noites que passo sem dormir..." Invento histórias infinitas que revelam a poesia e a música que vivem endogenamente em mim. Talvez sejam as palavras e as figuras ritmicas e melódicas veladas numa boca cerrada que descrevem os momentos efémeros, mas paradoxalmente invertidos em forma de Eternidade. No fundo, a poesia reencontra-se com a música, quando as suas mãos se fecham uma na outra e transformam a evanescência do momento na eternidade do tempo. Enfim, uma canção nasce como tudo o que existe, quando o momento de amor for perene no tempo...


Hoje, sou dono do céu
Sem o querer ultrajar.
Voo como um pássaro na contraluz,
Insistindo em te procurar...

Imagino os teus gestos
Sitos nas partituras em que os descrevo,
Indagando no canto da noite
O silêncio incólume que aqui escrevo...

Rejuvenesce-me o sorriso
Embalado pelo anoitecer.
Abre-se o horizonte!
Fecha-se a mão ao adormecer.
Foram dois anjos que se cruzaram
Num momento omnipotente,
Onde se desfez a solidão
Num beijo ardente.


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

terça-feira, setembro 14, 2004

Paixão - Um Momento Que Amanhece

Por vezes, recordo-me dos belos instantes que vivi... aqueles momentos em que fechamos os olhos ao medo e deixamo-nos levar pela loucura do âmago... Talvez sejam momentos pruriginosos que intimidam dois pombos paradisíacos ou os simples instantes que, num beijo, saciam as almas... Decerto que serão momentos que amanhecem numa palavra por dizer...


Dois olhares que se cruzam;
Dois sorrisos que despertam;
Dois corações que se intimidam;
Duas almas que se apertam;
Duas bocas no silêncio ancoradas;
Duas almas que vacilam sem razão;
Duas metades de Lua emaranhadas;
Dois anjos cintilantes na escuridão;

Duas mãos totalmente vazias;
Duas almas cobertas por um véu;
Duas vozes que cantam todos os dias;
Dois pombos paradisíacos, donos do Céu;
Dois corações que sibilam no escuro;
Duas almas vivas na pobreza do Mundo;
Dois corações que anseiam o mesmo futuro;
Duas almas que se saciam num beijo profundo;

Um momento que amanhece
Numa palavra por dizer...
Um regaço que nos aquece
Um coração a tremer...

Uma mão estendida
De um vagabundo à espera
De um beijo ao adormecer
De uma dama da Primavera...


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

sábado, setembro 11, 2004

Manta de Retalhos

Foram dois dias intensos que vivi e que se laconizam num só momento. Nos camarins do auditório da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, anseava o instante que, num dia, o sonho idealizou. O palco estava integralmente ornamentado com instrumentos musicais, o que transparecia a magia da Arte. Finalmente, apagaram-se as luzes do auditório e surgi em cena... Eis a hora derradeira... Os sons de cada instrumento conjugavam-se na atmosfera do recinto... As vozes ecoavam no espaço... As palmas confortavam-me... Dissipou-se a magia... Foram instantes irrepetíveis que vivi loucamente...
Vangloriaram-me com elogios no fim do derradeiro espectáculo que, docemente, me confortaram... Como é bom sentir o reconhecimento do público... No entanto, a esfinge do momento permanece no palco, onde tudo tornou-se real e somente os protagonistas sabem desvendá-la...
Por fim, ofereço estas breves palavras a quem soube partilhar comigo o sonho... o palco... o momento.

quinta-feira, setembro 09, 2004

A Música - O Lugar da Quimera

Nas imensas noites em que exorcizo o passado atroz, sobrevoo paisagens infinitas num leito alado e implume. Talvez sejam paisagens escondidas na Quimera, onde desvendei um espaço sublime, cujo o seu pecúlio pertence a quem teve a ousadia de sonhar um dia. Assim, perco-me integralmente num lugar, onde tudo o que é tangível e intangível se eterniza nos dedos de um pianista. Eis o lugar da Quimera, onde se imiscui figuras ritmicas e melódicas com grifos oriundos dos âmagos de todos os seres estrógenos que se velam no Mundo...


A Música é o sonho que me prende ao leito,
O lugar onde se vê a quimera nascer;
É o silêncio que escuto quando me deito
E que me embala até adormecer...

É o Mundo, a Lua, é toda a atmosfera...
É todo o lugar por onde caminho e não me canso;
É Verão, Outono, Inverno e Primavera,
O único momento em que descanso...

A Música é uma espécie de Céu,
Que se esconde nas mãos de uma criança;
É a alma que se envolve num véu
Repleto de melodias de bonança...

A Música é o meu beijo mais profundo
Vindo do fundo, só para te agarrar;
É a força e a armadura do Mundo;
É o meu corpo, a minha vida, que sei abraçar...

A Música é a poesia que sobrevoa no ar
De todo o lugar onde me quero esconder;
É a palavra que leio no teu olhar
E o som do dia ao amanhecer.


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

segunda-feira, setembro 06, 2004

A Arte - O Sémen do Amor Mundano

Nas noites em que esconjuro a solidão, invento histórias sem fim. Talvez seja a Arte que me faz sobrevoar paisagens infinitas, onde busco a magia que utilizo para enfrentar os medos e os cansaços que infelizmente a vida nos dá. Revelei num dos temas anteriores que a Arte é um subterfúgio que encontrei para me abstrair da futilidade do Mundo. Tudo aquilo que não é idóneo de se banalizar, é a forma mais etérea de descrever o pensamento, de evidenciá-lo e de manifestá-lo de um modo congruente. No entanto, poderíamos definir a Arte como o retrato abstracto da sociedade velada na intransigência do Mundo ou como um beijo perene que se oferece a quem nos concede um regaço ou como um grito filantropo de quem pretende salvar o Universo ou de quem vive com essa ilusão...

A Arte é a palavra que respira num dicionário,
Que se esmera num livro de poesia;
É a sílaba pronunciada no silêncio plenário
Que a natureza demonstra por magia...

É o gemido de um piano sonâmbulo
Que persegue na noite o sonhador;
É uma sóbria aresta de um triângulo
Que a Trigonometria desvenda sem pudor...

A Arte é uma lágrima no oceano
Dissipada por um anjo enfadonho;
É o sémen do amor mundano
Plantado nas planícies do sonho...

A Arte é a palavra transfigurada numa rosa,
Que transcende os feitiços do anoitecer;
É a casta beleza da poesia narrada em prosa,
Que interpela o sonhador ao amanhecer...


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

domingo, setembro 05, 2004

A Vida - A Arte Perene

Há dias que gosto de me debruçar sobre a vida. Tento preencher cada lacuna do tempo com um pensamento. Descobri que tudo deve ser vivido com Arte, de modo a que nenhum momento se desvaneça com o tempo. Na canção que deixo aqui, retrato a resistência de um povo oprimido por um Estado de censura, que saiu à rua num dia de revolução em Portugal. A forma como a "revolução dos cravos" foi arquitectada e desenrolada por um movimento constituido por militares das forças armadas é a evidência de que tudo deve ser criado com estro. Foram vozes endógenas que surgiram no interior das mentes estrógenas dos criadores da revolução, que fizeram com que esse dia...esse momento fosse jamais esquecido pelo vulgo português. Viva o 25 de Abril! Viva a Liberdade! Benditos sejam aqueles que libertaram o sonho de Portugal e eternizaram a Arte oculta num momento que nunca vivi...

A Vida é a arte que se espelha
No nosso planeta em movimento;
É a voz que se esmera
Nas teias de um amor sedento...
A Vida é o apelo escrito no mural
Pelo povo oculto na ausência de expressão;
É o manifesto do vulgo que craveja
Nas ruas em que se desenrola a revolução...
A Vida é a resistência de quem padece
Debaixo da intempérie da guerra,
De quem se imuniza no sonho indelével
Mesmo quando o dia encerra...

Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores.

sexta-feira, setembro 03, 2004

O Eufemismo da Memória

Há uns tempos atrás, descobri o estro escondido em mim. Comecei a dedicar-me à Arte, compondo canções relacionadas com o quotidiano ou com situações subjectivas. Além de ser um refúgio, a Arte é o subterfúgio que desvendei e utilizo para me abstrair dos maus vícios da sociedade. Assiste-se todos os dias nos noticiários a mais uma conjuntura política. É tão grande a coincidência dos factos, que só mesmo um eufemismo poderá suavizar o que ocorre na política portuguesa, que cada vez mais se distingue da filosofia. Acredito que os pensamentos de Sócrates ( filósofo grego )redigidos por Platão na sua obra literária, Górgias, são cada vez mais actuais. A política assemelha-se à retórica ou à submissão excessiva da actuação dos seus responsáveis ao agrado do vulgo, que já não é quem mais ordena. E mesmo as baladas do meu querido Zeca Afonso, que mimeticamente utilizo como fonte de inspiração para compôr as minhas espécies de canção, estão também mais actuais... "Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada..."
Bem... são tantas os factos pejorativos da nossa sociedade, que materializam a história do nosso país. Dessa forma, escrevi uma canção, que exprime o meu descontentamento pela forma como é conduzida a política de Portugal:


Sei que desdenho o que é inútil
E a sabedoria de um lacrau fútil,
Que esbanja demagogia
Nos dias de romaria...
Sei que desdenho o lugar
Onde se perde tempo a escutar
As verborreias tão exíguas
Ditas por mentes não ambíguas...

Sei que desdenho o consumismo
Que corrobora o materialismo
E toda a instância do Poder
Que transfigura o ser...

Isto é só o materialismo da história,
O eufemismo da memória...

Ai, Portugal, por onde me levas?