segunda-feira, setembro 23, 2019

Cigarra no Outono

Faço-me, hoje, à estrada
como quem tem nada
e ousa cotejar o vento.
A sorte é de quem sonha
e a desdita é peçonha
para quem não lê o tempo.
"A gente vai continuar",
canta o Palma sem cessar
e dou tréguas à solidão.
Vou já na valsa da vida
sem pejo nem medida
(não tem métrica uma canção)
e só espero encontrar
o esplendor do teu olhar.

Deixo-me ir na travessia

como quem abraça o dia
e se afasta da torrente.
O relógio não cessa,
mas vivo sem pressa
na urgência de quem sente.
O Dylan a sussurrar
e o Inverno a chegar!
É certo que esperas por mim.
Como a cigarra no Outono,
cantarei no teu sono
melodias de amor sem fim
e só espero desvendar
o esplendor do teu olhar.

E se o tempo é o chão

onde desbravo a canção,
eu hei-de abraçar-te, enfim.
Como a cigarra no Outono,
pousarei no teu sono,
onde já suspiras por mim
e só espero contemplar
o esplendor do teu olhar.

@João Garcia Barreto

Poema registado no IGAC
Autor representado pela Sociedade Portuguesa de Autores