segunda-feira, outubro 22, 2007

Ledo Hiato



De tez macia e lasciva,
Sorris à noite, no quarto, onde matizas a Primavera.
Disseminas, no soalho, as flores que amas
E escreves o adágio na atmosfera.
Semeias o viço das açucenas
E das puras acácias no Universo.
Prendes-me num beijo de uma semibreve
E estendo-me num esteiro de um verso.

E deixas-te ficar no ledo hiato,
Onde bailam anjos num silêncio lauto...

De tule pardo e liso,
Vagueias à noite, no quarto, onde o tempo permanece.
Contornas levemente a sombra que vês
E desenhas a Lua que evanesce.
Semeias o viço dos miósotis
E das puras azáleas na Utopia.
Enleias-me no regaço de um leito de seda
E perduro nos braços da Poesia.

E deixas-te ficar no ledo hiato
Onde bailam anjos num silêncio lauto...

Cedo-te a sidra no remanso dourado,
Cedes-me o suco de essência melada,
Brindamos ao Infinito num só trago...
Bebemos a seiva eternizada
Que produzes no quarto contemplado,
Onde deambulamos de mão dada.

E deixas-te ficar no ledo hiato,
Onde bailam anjos num silêncio lauto...
E deixas-te ficar aqui...

João Garcia Barreto

Fotografia de João Garcia Barreto

quinta-feira, outubro 18, 2007

Palavras Nunca Antes Ditas




Tudo o que se sobressai da utopia que advogo
Não é mais do que um substrato do tempo que vivi,
Como a lágrima vertida na atmosfera onde vogo
Não é mais do que um piano pungente que tange por ti…
E as mãos que, na solidão, se intimidam,
Que se desertificam aquando o tempo evanesce
Não são mais do que as palavras nunca antes ditas
E veladas num âmago isolado que entorpece…

Por isso, vem… que a saudade não desvanece…
Vem… que o tempo permanece…
E prende-me em ti…

Tudo o que se ocultava no silêncio temível
Não era mais do que a soturna certeza
Que teimava em calcular pela matemática falível
Nos teoremas esotéricos da imensurável natureza.
E se, novamente, me vires assim, imerso no pensamento,
Pensa que emergi do livro do cepticismo filosófico
Escrito pelas mãos da poesia na candura do tempo
E do exagero desenfreado de um amor platónico.

Por isso, vem… que a saudade não desvanece…
Vem… que o tempo permanece…
E prende-me em ti…

João Garcia Barreto

quinta-feira, outubro 11, 2007

Esquissos




Numa folha em branco,
Matizo o sorriso que improvisas no jardim
E pinto a silhueta dos gestos das mãos brandas
E dos lábios frios que pousas em mim...
Numa folha em branco,
Realço o sexto sentido que, aqui, reconheces,
E rasuro o tempo que lateja nas mãos abertas
Que revelam aquilo que só tu conheces.

E, na noite, desenho o Mundo
Que forjámos num beijo profundo...
E, na noite, matizo o perene amor assim...

Esquissos de ti...


Texto e Fotografia de João Garcia Barreto

segunda-feira, outubro 01, 2007

A Música - O Lugar da Quimera

A Música é o sonho que me prende ao leito
E o lugar onde se vê a quimera nascer;
É o silêncio que escuto quando me deito
E que me embala até adormecer.

É o Mundo, a Lua, é toda a atmosfera...
É todo o lugar por onde caminho e não me canso;
É Verão, Outono, Inverno e Primavera
E o único momento em que descanso;

A Música é uma espécie de Céu
Que se esconde nas mãos de uma criança;
É a alma que se envolve num véu
Repleto de melodias de bonança;

A Música é o meu beijo mais profundo
Vindo do fundo, só para te agarrar;
É a força e a armadura do Mundo
E o meu corpo, a minha vida, que sei abraçar.

A Música é a poesia que sobrevoa no ar
De todo o lugar onde me quero esconder;
É a palavra que leio no teu olhar
E o som do dia ao amanhecer.

João Garcia Barreto


A minha primeira canção...