sábado, dezembro 23, 2006

Pêndulo II

O pêndulo não cessa e, por conseguinte, o relógio continua o seu movimento habitual. Lá fora, o Sol pousa na varanda e espreita por trás da cortina. Bate na vidraça, no intuito de se penetrar entre quatro paredes caiadas, onde um piano zomba sobre o seu esplendor. Lá vem ele para mais uma das suas visitas de médico...
Abro a janela e deixo-o entrar no quarto, onde dança ternamente. Depois, despede-se e regressa ao espaço, onde se eterniza.
E eu estou aqui, onde o relógio marca mais um ano de vida. O pêndulo não pára, enquanto existir vontade de ficar no Mundo como “a gente vai continuar, enquanto houver estrada para andar” e o tempo evanesce na ilusão de quem não deseja perecer.

sábado, dezembro 16, 2006

Porto



Anseava-te ao som de Abrunhosa,
Quando o carro abraçou o Porto...
Pressentia-te no quarto do hotel,
Onde dormias deitada no leito morto.

Anseava-te nas ruas estreitas
Da cidade, onde faz sempre frio.
Sonhei que entravas no Majestic
Com a beleza infinita que jamais se viu...

E a tua pele divina, já despida...
E os braços de cetim sobre mim
Em plena avenida...

Quero-te aqui,
Quando se ama o Porto na tua ausência...

Anseava-te no Palácio de Cristal
Quando a chuva beijou a fonte...
Ao longe, os rabelos ancorados ao cais
E o meu olhar preso ao horizonte.

Anseava-te no barco para Afurada,
Onde trocava a cidade pela viagem
E o Porto, ao longe, mas tão perto
Por ser o deserto e tu, uma simples miragem...

João Garcia Barreto


Fotografia de Vanessa PelerigoPosted by Picasa

domingo, dezembro 10, 2006

Valsa De Um Homem Carente

Se alguma vez te parecer
Ouvir coisas sem sentido
Não ligues, sou eu a dizer
Que quero ficar contigo
E, apenas, obedeço
Com as artes que conheço
Ao princípio activo
Que rege desde o começo
E mantém o mundo vivo

Se alguma vez me vires fazer
Figuras teatrais
Dignas de um palhaço pobre
Sou eu a dançar a mais nobre
Das danças nupciais
Vê minhas plumas cardeais
Em todo o seu esplendor
Sou eu, sou eu, nem mais
A suplicar o teu amor.

É a dança mais pungente
Mão atrás e outra à frente
Valsa de um homem carente,
Mão atrás e outra à frente
Valsa de um homem carente

Carlos Tê

sábado, dezembro 02, 2006

O Amor Urge No Desconcerto Do Mundo



Percorro a solidão das ruas, onde invento os teus passos e a fragrância das tuas mãos. Anseio-te desenfreadamente como um louco que só repete as palavras que usas e, mimeticamente, gesticula os gestos que permanecem na miragem que vê e toca.
A noite adormece devagar ao som reproduzido pela leda madrugada, enquanto o meu corpo se arrasta na sua indolência. São horas de regressar ao quarto vazio, onde te escrevo, na ausência dos dias. Não imaginas os poemas e as pautas inúteis que atapetam o chão...

Por isso, vem... Não tenho mais nada para te dizer. Só tenho um simples âmago para te legar...
Vem... Desemboca em mim e adormece-me no leito que espera por ti...

Meu Amor, o Amor urge no desconcerto do Mundo...


Fotografia de Vanessa PelerigoPosted by Picasa