terça-feira, outubro 25, 2005

Menina de Olhar o Mar

Menina de olhar o mar,
Que escutas no zéfiro da maresia
As plácidas palavras que te conduzem
Ao culminar da porfia,
Entrega-te ao vento
Como um veleiro no alto mar
Que desliza em perpétuo movimento
Até um dia se ancorar.

Menina de olhar o mar
Desfruta o viço da maresia
E voa com asas implumes
Para os confins da fantasia.

João Garcia Barreto

Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

sexta-feira, outubro 14, 2005

Fim

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

Mário de Sá Carneiro

quarta-feira, outubro 05, 2005

Fecha-se a mão ao adormecer

Hoje, sou dono do Céu
Sem o querer ultrajar.
Voo como um pássaro na contraluz,
Insistindo em te procurar.

Imagino os teus gestos
Sitos nas partituras em que os descrevo,
Indagando no canto da noite
O silêncio incólume que aqui escrevo.

Rejuvenesce-me o sorriso
Embalado pelo anoitecer.
Abre-se o horizonte!
Fecha-se a mão ao adormecer.
Foram dois anjos que se cruzaram
Num momento omnipotente,
Onde se desfez a solidão
Num beijo ardente.

João Garcia Barreto

À tua poesia que partilhas comigo, Vanessa Pelerigo...

Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

domingo, outubro 02, 2005

A Outra Margem

E com um búzio nos olhos claros
Vinham do cais, da outra margem
Vinham do campo e da cidade
Qual a canção? Qual a viagem?

Vinham p’rá escola. Que desejavam?
De face suja, iluminada?
Traziam sonhos e pesadelos.
Eram a noite e a madrugada.

Vinham sozinhos com o seu destino.
Ali chegavam. Ali estavam.
Eram já velhos? Eram meninos?
Vinham p’rá escola. O que esperavam?

Vinham de longe. Vinham sozinhos.
Lá da planície. Lá da cidade.
Das casas pobres. Dos bairros tristes.
Vinham p’rá escola: a novidade.

E com uma estrela na mão direita
E os olhos grandes e voz macia
Ali chegaram para aprender
O sonho a vida a poesia.

Maria Rosa Colaço