quinta-feira, dezembro 24, 2009

Ledo Hiato


De tez macia e lasciva,
Sorris, à noite, no quarto, onde matizas a Primavera.
Disseminas, no soalho, as flores que amas
E escreves o adágio na atmosfera.
Semeias o viço das açucenas
E das puras acácias no Universo.
Prendes-me no beijo de uma semibreve
E estendo-me no esteiro de um verso.

E deixas-te ficar no ledo hiato,
Onde bailam anjos no silêncio lauto...

De tule pardo e liso,
Vagueias, à noite, no quarto, onde o tempo permanece.
Contornas levemente a sombra que vês
E desenhas a Lua que evanesce.
Semeias o viço dos miósotis
E das puras azáleas na Utopia.
Enleias-me no regaço de um leito de seda
E perduro nos braços da Poesia.

E deixas-te ficar no ledo hiato,
Onde bailam anjos no silêncio lauto...

Cedo-te a sidra no remanso dourado,
Cedes-me o suco de essência melada,
Brindamos ao Infinito num só trago...
Bebemos a seiva eternizada
que produzes no quarto contemplado,
Onde deambulamos de mão dada.

E deixas-te ficar no ledo hiato,
Onde bailam anjos no silêncio lauto...
E deixas-te ficar aqui...

Texto de João Garcia Barreto
Pintura de Cristina Huertas

Feliz Natal a todos

terça-feira, novembro 17, 2009

Fada do Tempo

Desvendei-te na friagem da noite, quando as asas se quebraram de tanto sobrevoar as lacunas veladas no Mundo. Amainaste os vendavais que pareciam infindáveis e aconchegaste-me no regaço, onde, ainda, teimo em repousar. Transfiguraste-me e inverteste a dolência de um anjo enfadonho, emancipando-o com o alento que transborda de ti…
Talvez sejas dona do tempo e saibas inverter sortilégios… De que terno sonho vieste? De que eterno conto surgiste?
Insurgiste-te nos nefastos pesadelos, que, inexoravelmente, me corroíam, cobrindo-me com um invólucro feérico. Cristalizaste o tempo no meu âmago estrógeno e ofereceste-me hipérboles, metonímias e metáforas sem fim. Com as tuas asas, sou, hoje, dono do céu… De que noite irrompi? De que sonho renasci? Talvez de ti, Fada do Tempo…

Obrigado, Mãe…

quarta-feira, novembro 04, 2009

Doce Ensejo

Insurge-se o ensejo, no silêncio do tempo
E a mão aberta que se quer fechar,
Enquanto dançamos na avenida
Antes da manhã regressar...
Desvendo o desejo que se oculta em ti
Na solidão das palavras que recitas
E prendo-me nas teias dos sorrisos
Que, na avenida, dissipas.

E a noite esvaece...
E o tempo permanece em mim...

E se a Lua adormecer,
Sei que me beijas ao amanhecer...
E se o Sol despertar,
Sei que a mão se vai fechar...

Sibila na avenida o doce desejo,
Que se oculta no sopro do vento
E persigo as palavras que soltas
No ledo balanço do momento.

Texto de João Garcia Barreto


Um poema de uma canção composta em 2004...

domingo, outubro 18, 2009

Navegar, Navegar

Navegar navegar
Mas, ó minha cana verde
Mergulhar no teu corpo
Entre quatro paredes.
Dar-te um beijo e ficar
Ir ao fundo e voltar,
Ó minha cana verde,
Navegar, navegar

Quem conquista sempre rouba.
Quem cobiça nunca dá
Quem oprime, tiraniza,
Naufraga mil vezes,
Bonita, eu sei lá...
Já vou de grilhões nos pés.
Já vou de algemas nas mãos,

De colares ao pescoço,
Perdido e achado,
Vendido em leilão.
Eu já fui a mercadoria
Lá na praça do Mocá,
Quase às avé-marias
Nos abismos do mar

Já é tempo de partir.
Adeus, morenas de Goa
Já é tempo de voltar.
Tenho saudades tuas,
Meu amor
De Lisboa.
Antes que chegue a noite
Que vem do cabo do mundo
Tirar vidas à sorte
Do fraco e do forte
Do cimo e do fundo.
Trago um jeito bailarino
Que, apesar de tudo, baila
No meu olhar peregrino
Nos abismos do mar

Texto de Fausto Bordalo Dias

domingo, setembro 27, 2009

Quando Se Ama o Porto


Ansiava-te, ao som de Abrunhosa,
Quando o carro abraçou o Porto
Que, sob a ponte, açulava o anelo
Que persistia no dia já morto.
Esperei-te na leda madrugada
Que vacilava no rio que dormia
E, todavia, devaneava na calçada
Sob a Lua que, no céu, se desentedia.

E a tez macia da cidade adormecida...
E os esteiros de cetim sobre mim
Em plena avenida...

Quando se ama o Porto,
Dilata-se, na noite, o espaço
E quem anseia um beijo absorto,
Sente, sempre, perto o regaço.

Despertei, ao timbre de Abrunhosa,
Quando a manhã, de novo, se abriu
Que, sob a neblina, espelhou a luz
Na cidade, onde faz sempre frio.
Saboreei-te no canapé do Majestic
E, depois, no barco para a Afurada,
Onde troquei o Porto pela viagem
Do eterno sonho na madrugada.

E a tez sublime da cidade já despida...
E os esteiros de cetim sobre mim
Em plena avenida...

Quando se ama o Porto,
Dilata-se, na noite, o espaço
E quem anseia um beijo absorto,
Sente, sempre, perto o regaço.

Texto de João Garcia Barreto
Fotografia de Cristina Neto

quinta-feira, setembro 17, 2009

Anseio-te Em Qualquer Lugar


@Veneza

Anseio o Infinito desenhado no corpo
Coberto por um tule irisado...
Anseio o desejo que se estende no horizonte
Pintado no beijo demorado...
Anseio o desvelo que se espelha no abraço
Legado numa dança no Mundo...
Anseio o ensejo que se insurge no tempo
Matizado no gesto fecundo...

Anseio-te em qualquer lugar,
Onde deixas tanto de ti...
Quero-te, em mim, na leda madrugada,
Onde sintas, depois, o tempo que vivi...


Texto de João Garcia Barreto
Fotografia de Vasco Barreto

terça-feira, agosto 18, 2009

O Amor Não Se Empresta



Escrevo-te, de novo, na ausência dos dias
Onde pernoito devagar...
Doi-me a saudade de te querer em mim...
Revejo-te no que, no leito, não me dizias
E osculo-te sem cessar...
Perco-me na memória por te ansiar assim...

Bebo-te em tragos lentos na contradança
Que forjámos aqui...
Sinto a brisa do teu corpo no quarto deserto...
Espero-te na noite, onde a Lua balança...
Depuro-te no que vivi
E lembro-te na despedida no lugar incerto...

E o tempo que sentes,
Preso no silêncio das mãos prementes
É tudo aquilo que nos resta...
Tu sabes: “O Amor não se empresta...”

Texto e Fotografia de João Garcia Barreto

sexta-feira, julho 31, 2009

Beijo Escondido

Entoas, no silêncio, um poema sem cessar
E persigo as palavras que soltas na calçada.
Desvendo, em cada sílaba, um segredo por revelar
E um beijo que lateja na boca coutada.

Sim, eras tu que, sem saber, me beijavas
E entregavas, ao vento, o tempo que sonhavas...

Sussurras, no silêncio, uma sóbria semibreve
E persigo o compasso que serena a madrugada.
Desvendo, em cada passo, um abraço puro e breve
E um beijo velado na boca vedada.

Sim, eras tu que, sem saber, me beijavas
E entregavas, ao vento, o tempo que sonhavas...

Texto de João Garcia Barreto

A canção pode ser escutada aqui

quarta-feira, julho 29, 2009

O Zorro

Eu quero marcar um Z dentro do teu decote,
Ser o teu Zorro de espada e capote
Para te salvar à beirinha do fim.
Depois, num volteface, vestir os calções,
Acreditar de novo nos papões
E adormecer contigo ao pé de mim.

Eu quero ser, para ti, a camisola dez,
Ter o Benfica todo nos meus pés,
Marcar um ponto na tua atenção.
Se, assim, faltar a festa na tua bancada,
Eu faço a minha última jogada
E marco um golo com a minha mão.

Eu quero passar contigo de braço dado
E a rua toda de olho arregalado
A perguntar como é que conseguiu.
Eu puxo da humildade da minha pessoa,
Digo da forma que menos magoa:
"Foi fácil. Ela é que pediu!"

Texto de João Monge

segunda-feira, julho 13, 2009

Palavras Nunca Antes Ditas



Tudo o que se sobressai da utopia que advogo
Não é mais do que um substrato do tempo que vivi,
Como a lágrima vertida na atmosfera onde vogo
Não é mais do que um piano pungente que tange por ti…
E as mãos que, na solidão, se intimidam,
Que se desertificam quando o tempo esvaece
Não são mais do que as palavras nunca antes ditas
E veladas num âmago isolado que entorpece…

Por isso, vem… que a saudade não desvanece…
Vem… que o tempo permanece…
E prende-me em ti…

Tudo o que se ocultava no silêncio temível
Não era mais do que a soturna certeza
Que teimava em calcular pela matemática falível
Nos teoremas esotéricos da imensurável natureza.
E se, novamente, me vires assim, imerso no pensamento,
Pensa que emergi do livro do cepticismo filosófico
Escrito pelas mãos da poesia na candura do tempo
E do exagero desenfreado de um amor platónico.

Por isso, vem… que a saudade não desvanece…
Vem… que o tempo permanece…
E prende-me em ti…

Texto de João Garcia Barreto

Fotografia de João Coelho

sexta-feira, junho 26, 2009

Cruz Alta



Ficou a promessa
Onde o Céu se une com a Terra,
Tão perto da Lua que regressa
Aos encantos do palácio e da serra.




Ficou a promessa
No cume, onde Deus pousou,
Tão perto do Sol que regressa
Aos braços de quem o ressuscitou.




E só a morte, por ser forte,
Matará o sonho
Preso naquele lugar.
E só a morte, por ser forte,
Matará quem
Viu ali o teu olhar.


Texto e Fotografias de João Garcia Barreto

quarta-feira, junho 10, 2009

Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Texto de Luís Vaz de Camões

segunda-feira, junho 01, 2009

As crianças... e a Poesia...

"Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do Mundo são as crianças,
Flores, música, o luar e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca..."

in Liberdade de Fernando Pessoa

"Eles não sabem, nem sonham,
Que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
O mundo pula e avança
Como uma bola colorida
Entre as mãos de uma criança."

in Pedra Filosofal de António Gedeão

"A Música é uma espécie de céu
Que se esconde nas mãos de uma criança...
É a alma que se envolve num véu
Repleto de melodias de bonança..."

in A Música - O Lugar da Quimera de João Garcia Barreto

domingo, maio 03, 2009

Beijo da Eternidade


@ London Eye (Londres)

Tudo o que vejo não é miragem,
Tudo o que desvendo na alma
Perdura na essência da imagem
Do Mar que nos acalma.
Tudo o que sinto na realidade,
O que armazeno na arca sincera,
Transfigura a doce saudade
Numa rosa da Primavera.

Tudo o que em mim flameja,
Tudo o que em mim é fecundo,
É a Música que me beija
Numa lacuna do Mundo
Tudo o que perdura nas páginas da verdade,
Tudo o que existe e não tem fim,
Fortalece a doce saudade,
Beijo da Eternidade em mim.

E tudo o que vês não é submerso...
A imagem que observas é o regresso...

De novo, perto de mim,
Observas o Horizonte,
Se eu, a ti, retornei
Foi da água que bebi na fonte.
Estava escrito nas lajes
Da fonte em que bebi,
O segredo que desvendei
Para repousar hoje, aqui.

Texto e Fotografia de João Garcia Barreto

A ti... Tudo faz sentido, porque existes... Vivo por ti...

domingo, abril 19, 2009

Menina de Olhar o Mar

Menina de Olhar o Mar,
Que escutas, no zéfiro da maresia,
As plácidas palavras que te conduzem
Ao culminar da porfia,
Entrega-te ao vento
Como um veleiro no alto mar,
Que desliza em perpétuo movimento
Até um dia se ancorar.

Menina de Olhar o Mar,
Desfruta o viço da maresia
E voa com asas implumes
Para os confins da Fantasia.

Texto de João Garcia Barreto


Uma canção de embalar composta em 2003

domingo, abril 05, 2009

Persegue-me

Persegue o bailado das mãos
Que pousas no chão da aventura
E dança na euritmia da canção
Que ecoa no silêncio da loucura.

Persegue o bálsamo da madrugada,
Quando o âmago se desarma no leito
E absorve a paixão que se alberga
Na noite que espelha o amor perfeito.

E o ensejo irrompe na silhueta rara
Do ledo corpo que baila na estrada
E rasuras o tempo no céu da manhã clara
E abraças o Mundo na noite findada.


Texto de João Garcia Barreto

segunda-feira, março 30, 2009

Silêncio

Silêncio é a palavra que habita, que palpita
Toda a música que faço.
É a cidade onde aportam os navios
Cheio de sons, de distância, de cansaço.
É esta rua onde despida a valentia
A cobardia se embriaga pelo aço.
É o sórdido cinema onde penetro
E encoberto me devolvo ao teu regaço.
É a luz que incendeia as minhas veias,
Os fantasmas que se soltam no olhar,
Que te acompanham nos lugares onde passeias,
É o porto onde me perco a respirar.
Silêncio são os gritos de mil gruas,
E o som eterno das barcaças
Que chiando navegam pelas ruas,
E dos rostos que se escondem nas vidraças.

Quem me dera poder conhecer
Esse silêncio que trazes em ti,
Quem me dera poder encontrar
O silêncio que fazes por mim.
Pelo silêncio se mata,
Por silêncio se morre,
Tens o meu sangue nas veias,
Será que é por mim que ele corre?

Somos dois estranhos
Perdidos na paz,
Em busca de silêncio
Sozinhos demais,
Somos dois momentos,
Dois ventos cansados,
Em busca da memória
De tempos passados.

Silêncio é o rio que esconde
O odor de um prédio enegrecido,
O asfalto que me assalta quando paro,
Assomado por um corpo já vencido.
Silêncio são as luzes que se apagam
Pela noite, na aurora já despida,
E os homens e mulheres que na esquina
Trocam prazeres, virtudes, talvez Sida.
Silêncio é o branco do papel
E o negro pálido da mão,
É a sombra que se esvai feita poema,
Num grafitti que é gazela ou leão.
Silêncio são as escadas do metro
Onde poetas se mascaram de videntes,
Silêncio é o crack que circula
Entre as ruas eleitas confidentes.

Quem me dera poder conhecer
Esse silêncio que trazes em ti,
Quem me dera poder encontrar
O silêncio que fazes por mim.
Pelo silêncio se mata,
Por silêncio se morre,
Tens o meu sangue nas veias,
Será que é por mim que ele corre?

Somos dois estranhos
Perdidos na paz,
Em busca de silêncio
Sozinhos demais,
Somos dois momentos,
Dois ventos cansados,
Em busca da memória
De tempos passados.


Silêncio é este espaço que há em mim,
Onde me escondo para chorar e ser chorado,
É o pincel que se desfaz na tua boca,
Em qualquer doca do teu seio decotado.

Somos dois estranhos
Perdidos na paz,
Em busca de silêncio
Sozinhos demais,
Somos dois momentos,
Dois ventos cansados,
Em busca da memória
De tempos passados.


Silêncio...

Texto de Pedro Abrunhosa

terça-feira, março 24, 2009

Esquiços

Numa folha em branco,
Matizo o sorriso que improvisas no jardim
E pinto a silhueta dos gestos das mãos brandas
E dos lábios frios que pousas em mim...
Numa folha em branco,
Realço o sexto sentido que, aqui, reconheces,
E rasuro o tempo que lateja nas mãos abertas
Que revelam aquilo que só tu conheces.

E, na noite, desenho o Mundo
Que forjámos num beijo profundo...
E, na noite, matizo o perene amor assim...

Esquiços de ti...

Texto de João Garcia Barreto

quarta-feira, março 18, 2009

Caos No Deserto

Eis o eco da sociedade
No silêncio amargo que, infelizmente, sentes…
No país das ilusões,
Há quem saiba deturpar os sonhos prementes…
Eis a exígua verborreia
Da pura demagogia da política emproada
Que, no ciclo vicioso,
Zomba sempre na penúria de uma mão sem nada.

E a justiça embargada
Nas estantes do tribunal
E a violência anunciada
Na capa do jornal,
É, somente, a desilusão
Em Portugal…

Caos no deserto que vês tão perto…
Destrói o muro que fustiga o futuro.

Eis o crédito mal parado,
No declínio da economia, que o banqueiro contamina…
Na assembleia dos agiotas,
Jaz o vulgo na calçada e a escumalha pantomina…
Eis a crise da educação,
Na ignorância de uma nação, que se corrói sem cessar…
Eis a vil plutocracia
Que matou a Utopia que a Liberdade soube legar…

E a justiça embargada
Nas estantes do tribunal
E a violência anunciada
Na capa do jornal,
É, somente, a desilusão
Em Portugal…

Caos no deserto que vês tão perto…
Destrói o muro que fustiga o futuro.


Texto de João Garcia Barreto

sexta-feira, março 13, 2009

Às Vezes, o Amor

-Que hei-de eu fazer
Eu tão nova e desamparada
Quando o amor
Me entra de repente
P´la porta da frente
E fica a porta escancarada?


-Vou-te dizer
A luz começou em frestas.
Se fores a ver
Enquanto assim durares
Se fores amada e amares
Dirás sempre palavras destas:


-Para te ter
E para que, de mim, não te zangues,
Eu vou-te dar
A pele do meu cetim
Coração carmesim
As carnes e, com elas, sangues.


Às vezes, o amor
No calendário,

Noutro mês, é dor,
É cego e surdo e mudo
O dia é tão diário

Disso tudo

-E se um dia a razão
Fria e negra do destino
Deitar mão
À porta à luz aberta
Que te deixe liberta
E do pássaro se ouça o trino:


-Por te querer
Vou abrir, em mim,

Dois espaços
Para te dar
Enredo ao folhetim
A flor ao teu jardim
As pernas e, com elas, braços.

Às vezes o amor
No calendário,

Noutro mês, é dor,
É cego e surdo e mudo.
O dia é tão diário disso tudo.


Mas se tudo tem fim
Porquê dar ao amor guarida?
Mesmo assim
Dá princípio ao começo
Se morreres só te peço:
Da morte volta sempre em vida.


Às vezes o amor
No calendário,

Noutro mês é dor,
É cego e surdo e mudo
O dia é tão diário disso tudo...

Texto de Sérgio Godinho

segunda-feira, março 09, 2009

Âmago Que Balança

De braços abertos, voas na cidade
A cada sombra que vês,
Onde devoras o perfume lascivo
Do vento do ensejo na tez.

Beijas-me nas palavras que dizes
Em cada lugar que passas
E a avenida desentedia-se na canção
Do tempo eterno que abraças.

E suspiro enquanto suspiras...
E respiro quando respiras...

E, na cidade cansada,
O âmago que balança,
Ao ver-te, sorri...
E o corpo que baila
No Mundo que dança
Por ter-te aqui...

Texto de João Garcia Barreto


Poema registado na Sociedade Portuguesa de Autores

quarta-feira, março 04, 2009

Ledo Hiato

De tez macia e lasciva,
Sorris à noite, no quarto, onde matizas a Primavera.
Disseminas, no soalho, as flores que amas
E escreves o adágio na atmosfera.
Semeias o viço das açucenas
E das puras acácias no Universo.
Prendes-me num beijo de uma semibreve
E estendo-me num esteiro de um verso.

E deixas-te ficar no ledo hiato,
Onde bailam anjos num silêncio lauto...

De tule pardo e liso,
Vagueias à noite, no quarto, onde o tempo permanece.
Contornas levemente a sombra que vês
E desenhas a Lua que evanesce.
Semeias o viço dos miósotis
E das puras azáleas na Utopia.
Enleias-me no regaço de um leito de seda
E perduro nos braços da Poesia.

E deixas-te ficar no ledo hiato
Onde bailam anjos num silêncio lauto...

Cedo-te a sidra no remanso dourado,
Cedes-me o suco de essência melada,
Brindamos ao Infinito num só trago...
Bebemos a seiva eternizada
Que produzes no quarto contemplado,
Onde deambulamos de mão dada.

E deixas-te ficar no ledo hiato,
Onde bailam anjos num silêncio lauto...
E deixas-te ficar aqui...


Texto de João Garcia Barreto

sábado, fevereiro 28, 2009

Refúgio - Para Sempre

A noite adormecia no crepúsculo da manhã
E tu dormias, Princesa, no aconchego do divã,
Onde ousavas viajar sobre o segredo que o mar
Armazenou em mim.
Descobrias que o que vias, era o cimo de uma hera,
Que floria a saudade em tons de Primavera
E eternizava os dias no asilo onde viverias
A sonhar sempre assim…
Entrizaste-te, enfim, do aconchego do divã
E revelaste o que observaste, roendo uma maçã…
Estendeste a tua mão, senti a pulsação,
És parte de mim…
Revelei-te que o horizonte é o fim ecuménico,
Que o lugar onde vives é só um espaço cénico
E o mito que guardamos, é aquilo que sonhamos
Num mundo assim…

Em ti pousei, em ti repousei…
Eis o refúgio que desvendei…
Sei voar, sei flutuar,
Sou um anjo vivo no teu olhar.

Ledamente, o dia surgiu na manhã já despida,
E tu estranhavas, Princesa, a madrugada vivida
No enleio que se eterniza no tempo que se imuniza,
Para sempre, aqui…
Soubeste perguntar onde guardava a magia,
Disse que não sabia sequer onde a escondia,
Pediste-me um beijo, realizei o desejo
Do ensejo sem fim…
Insurgiste-te, no adeus, com o teu jeito peculiar,
Disseste que um anjo sabe sempre regressar,
Osculaste a minha mão, sentiste a pulsação,
Sou parte de ti…
Disseste que esperavas com as mãos abertas
Prometi que regressava nas noites incertas,
Peguei na poesia e na mais bela melodia
E parti assim…

Texto de João Garcia Barreto

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Senta-te Aí

Está na hora de ouvires o teu pai
Puxa para ti essa cadeira
Cada qual é que escolhe aonde vai
Hora-a-hora e durante a vida inteira.

Podes ter uma luta que é só tua
Ou, então, ir e vir com as marés
Se perderes a direcção da Lua
Olha a sombra que tens colada aos pés.

Estou cansado. Aceita o testemunho
Não tenho o teu caminho para escrever
Tens de ser tu, com o teu próprio punho
Era isto o que te queria dizer.

Sou uma metade do que era
Com mais outro tanto de cidade.
Vou-me embora que o coração não espera
À procura da mais velha metade.

Texto de João Monge

Parabéns, Grande Pai

domingo, fevereiro 22, 2009

Eufemismo da Memória

Sei que desdenho o que é inútil
E a sabedoria de um lacrau fútil,
Que esbanja demagogia
Nos dias de romaria...
Sei que desdenho o lugar,
Onde se perde tempo a escutar
As verborreias tão exíguas
Ditas por mentes não ambíguas...

Sei que desdenho o consumismo
Que corrobora o materialismo
E toda a instância do Poder
Que transfigura o ser...

Isto é só o materialismo da história,
O eufemismo da memória...

Ai, Portugal,
Por onde me levas...

Texto de João Garcia Barreto

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Um Homem Como Eu

Imagina um homem como eu...
Não eu!
Um homem como eu, magro e grisalho...
Desses que até um véu dá de agasalho.
Não eu... mas um homem como eu
Que ama a fragilidade da lua e a tristeza das flores,
De todas as flores por causa tua
Podes tentar...

Imagina um homem como eu...
Não eu! Que ama com as mãos e com a voz
E, meu Deus, como são as tuas mãos...
São as mãos que todos nós – os homens como eu
Beijamos só de olhar,
Olhamos só de amar...
As mãos da mulher amada
São de ficar de mão dada, comendo um gelado,
Olhando o céu dos pardais...
Não eu! Que sou dos tais tão difíceis de gostar,
Mas um homem como eu
Feito só de imaginar.

Imagina um homem como eu...
Não eu!
Mas um homem que de seu
Tem o medo inicial
Da corrida das crianças
E o vermelho facial
Das primeiras danças a dois,
Quando sorris...
Mas que, depois, se deixa sempre levar
Por tudo o que tu lhe dás.
Vá, diz! Amar um homem como eu,
Eras capaz?

João Monge

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

No Voo de Um Anjo

Da janela do quarto,
A tua fobia suspirava...
Esperavas pelo anjo,
Que tardava.
E dos jardins de Éden,
Irrompe num voo inaudito,
O anjo que aguardavas
No teu lugar interdito.

E no silêncio do quarto,
Só o teu esgar não negou
A Eternidade de um beijo
De quem ao momento se entregou.
E com o desvelo de um abraço
De um anjo eterno que voou,
Imunizaste no leito
O amor que, no quarto, deixou.

No voo de um anjo,
Onde flutuavas,
Desarvorou a dolência
Que tanto exorcizavas.
E no parapeito do postigo,
Lá se despediu
O teu anjo perene
Que só o teu olhar viu.

Texto de João Garcia Barreto


A canção pode ser escutada aqui

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Foz do Teu Olhar



Perdi-me no silêncio que se estendia
Na serra que cobre o Douro,
Quando a tarde se fez no Sol que se abria
E matizava o chão de ouro.

Perdias-te na saudade que se avizinhava
Ou na aventura que vivias
E, a cada palavra da canção que ocultava,
Simplesmente, sorrias...

E, no ledo passeio,
O beijo foi o ensejo que o tempo escondia...
E, no Molhe deserto,
Abracei-te quando o âmago dizia:

Escondo o Porto na voz,
Quando abraço o mar...
Eis o Mundo que desemboca na Foz do teu olhar.


Texto de João Garcia Barreto
Fotografia de Vanessa Pelerigo

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Crónica do Lendário Sibilante



Mais um dia que finalizava e a avenida parecia dormir… A Lua abandonou a noite pluviosa e, peremptoriamente, retornei ao refúgio, vasculhando as infinitas lacunas da cidade. A volúpia viperina espreitava pelos becos da avenida quase deserta, enquanto disseminava resquícios do amor genuíno, convertidos em retalhos de utopia na urbe ostracizada.
No silêncio da noite, pensava nas aventuras que, loucamente, vivi e seguia, estoicamente, o rasto deixado pelo ensejo. Sibilava melodias sem fim na ânsia de preconizar o segredo que respirava na avenida e vislumbrei-te no parapeito do postigo, onde, desenfreadamente, plangias. Perguntei-te porque carpias e encolheste os ombros, desviando o olhar que se intimidava. Insisti em questionar-te, cotejando o silêncio que teimavas em ocultar. Balbuciaste escassas palavras que revelavam o que ocultavas no âmago vulnerável que, ainda, possuis e, instantaneamente, enleaste o regaço de um abraço profundo.
Convidei-te para voar e, abruptamente, estendeste-me a mão. Ergui os braços e seguraste-te, firmemente, no cós do corpo de plumas. Prestes, partimos… Voámos sobre o Mundo e a beleza inaudita daquilo que vias e do ar puro da atmosfera que bafejava no semblante que sorria.
Levei-te ao espaço, onde teimo em pousar. Deslindaste todos os segredos que armazenava no refúgio, escutando os ecos da melopeia latente em mim. Após um ósculo demorado, clamaste, perdidamente, pelo perene amor como o verso do soneto eternizado pelo poeta.
As horas passam e os minutos esvaecem... Retornámos ao postigo, onde o teu esgar se vulnerou e, na candura do momento, acariciei-o, prometendo que regressava nas noites incertas. Na terna despedida, lacrimejaste, profundamente, rogando, em desespero, que não partisse. Perguntaste-me quem era… Olhei diante dos teus olhos e respondi: “Sibilante”.
Quando adormeceste, deixei, no parapeito do postigo, as duas pedras que se complementam e parti como uma cotovia, infiltrando-me na infinita atmosfera, onde se encontra o adágio que escrevi.
Irrompeu a soberba aurora... Arvoraste-te, ledamente, do leito de seda. O Sol erradiava e reflectia-se na vidraça da janela e, endogenamente, sentias a melopeia composta no quarto contemplado, onde imunizaste as pedras legadas.
Enfim, abandonaste o lar, cotejando, de novo, o frenesim cotio que se vive, constantemente, no âmago citadino. Indagaste o nome das pedras legadas em cada passo que davas e, em cada palavra que proferias, percebias que necessitavas de uma chave que abrisse a porta do espaço, onde o segredo se encontrava armazenado. Procuraste a chave em cada lacuna da cidade, constatando que, somente, conseguirias desvendá-la se preconizasses a filantropia no Mundo.
No final do dia, a saudade do tempo vivido suspirava na réstia do Sol e concluíste que a chave só poderia ser um substantivo abstracto, composto por quatro letras e idónea de desenredar o segredo do nome das duas pedras que tanto observavas.
No regresso ao parapeito do postigo do quarto, entregavas-te ao tempo no beijo desenfreado que desembocou no sorriso desenhado no semblante que observava. Contei-te histórias sem fim, enquanto bebias as palavras em tragos lentos.
Entrizei-me do leito macio, onde aconchegávamos o corpo e a alma e apontei para o parapeito. As pedras fulgiam e a Lua sorria no manto de estrelas que cobria a cidade cansada.
Por fim, trocámos o derradeiro olhar na madrugada, onde leste o nome das pedras doadas que se complementam e, antes de partir, interpelaste-me: “ Sibilante, é o sonho que comanda a vida? “
Beijei a tua mão e respondi: “ Sim, a vida pode ser o que sonhamos...”

Texto de João Garcia Barreto
Pintura a Aguarela, gentilmente, cedida por Cristina Huertas

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Arauto de Éden



De tanto sobrevoar,
Indaguei uma lacuna no Mundo,
Em cada espaço, uma candeia acesa...
Em cada toada, um grito profundo...
Encontrei um postigo aberto
E pousei no parapeito.
Soltei um sopro nevado,
Logo, surgiu o esgar desfeito.
Porque planges na madrugada?
Porque deturpas a alvorada?

Sou um arauto de Éden
Que, no teu quarto, veio repousar.
E desvendo o horizonte
No esplendor do teu olhar.
Escuta a doce melopeia,
Que sibila dentro de ti,
Torna perene o tempo
E a missiva que deixo aqui.

Texto de João Garcia Barreto
Fotografia de Miguel Rezende

Em memória do meu avô, Joaquim Barreto...

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Advogo

Advogo a filantropia,
Não ignoro a caducidade.
Observo o Mundo de noite e de dia
E vejo sempre a claridade.

Não advogo a retórica,
Nada é objecto de persuação.
A política é alérgica à filosofia,
É uma plutocracia sem razão,
Uma demagogia que pantomina
Numa sociedade sem propensão…

Advogo o teu ser,
A tua luz que me ilumina
E a tua arte escondida
Numa quimera genuína…

Advogo o que existe
Na mente que incita
O amor que se esconde
Na alma inaudita.

Advogo a candura do vento,
Que bafeja o que não é banal,
Nasce nos confins da Utopia,
Suaviza a cegueira infernal
E traça a linha longa do horizonte
Na plenitude do pantanal.


Texto de João Garcia Barreto

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Doce Ensejo

Insurge-se o ensejo, no silêncio do tempo
E a mão aberta que se quer fechar,
Enquanto dançamos na avenida
Antes da manhã regressar...
Desvendo o desejo que se oculta em ti
Na solidão das palavras que recitas
E prendo-me nas teias dos sorrisos
Que, na avenida, dissipas.

E a noite esvaece...
E o tempo permanece em mim...

E se a Lua adormecer,
Sei que me beijas ao amanhecer...
E se o Sol despertar,
Sei que a mão se vai fechar...

Sibila na avenida o doce desejo,
Que se oculta no sopro do vento
E persigo as palavras que soltas
No ledo balanço do momento.

Texto de João Garcia Barreto

domingo, fevereiro 01, 2009

Que Linguagem Tem o Teu Coração Que Não o Entendes?



A aurora insurge-se na melodia da Primavera que o Sol, ledamente, assobia. Nem o indesejado som do motor dos carros dispersos pela rua contrafaz o belo canto que escuto na manhã clara. Nem as palavras descrevem o beijo que, no silêncio, se quer soltar, quando o âmago se entrega à aventura, deleitando-se na loucura. E, assim, anseio-te em qualquer lugar, onde deixas tanto de ti...
Que linguagem tem o teu coração que não o entendes? Sei que me respiras. Pressinto-te aqui... Sente-me... Pressente-me... Que o âmago saiba aventurar-se no Mundo.


Texto e Fotografia de João Garcia Barreto

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Paixão - Um Momento Que Amanhece

Dois olhares que se cruzam,
Dois sorrisos que despertam,
Dois corações que se intimidam,
Duas almas que se apertam,
Duas bocas no silêncio ancoradas,
Duas almas que vacilam sem razão,
Duas metades de Lua emaranhadas,
Dois anjos cintilantes na escuridão.

Duas mãos totalmente vazias,
Duas almas cobertas por um véu,
Duas vozes que cantam todos os dias,
Dois pombos paradisíacos, donos do Céu,
Dois corações que sibilam no escuro,
Duas almas vivas na pobreza do Mundo,
Dois corações que anseiam o mesmo futuro,
Duas almas que se saciam num beijo profundo.

Um momento que amanhece
Numa palavra por dizer...
Um regaço que aquece
Um coração a tremer...

Uma mão estendida
De um vagabundo à espera
De um beijo ao adormecer
De uma dama da Primavera...

Texto de João Garcia Barreto


Um poema escrito em 2003

terça-feira, janeiro 27, 2009

2 Tempos



O vento sopra de ti
À minha janela,
Despistando rumores
E sempre a tua presença
Nesta lua secreta,
Sem cupido nem seta
Quando à tua nascença,
Choraste em mim.
Lembra-te que o amor é um mundo sem fim.

Como se o silêncio
Que repousa nas casas
Fosse apenas uma pausa
E sempre a tua presença
Nesta lua secreta,
Sem cupido nem seta
Quando à tua nascença,
Choraste em mim.
Lembra-te que o amor é um mundo sem fim.

Pelos teus olhos, eu visse
A tua alma e os despisses
Ao curar a minha dor
Neste rumo sem rota
Ninguém sabe de si
E, no fundo, sem crença,
Ninguém nota a diferença
E tu acreditaste em mim.
Lembra-te que o amor é um mundo sem fim.

Texto de João Gil
Fotografia de João Garcia Barreto

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Beijo da Eternidade



Tudo o que vejo não é miragem,
Tudo o que desvendo na alma
Perdura na essência da imagem
Do Mar que nos acalma.
Tudo o que sinto na realidade,
O que armazeno na arca sincera,
Transfigura a doce saudade
Numa rosa da Primavera.
Tudo o que, em mim, flameja,
Tudo o que, em mim, é fecundo,
É a Música que me beija
Numa lacuna do Mundo
Tudo o que perdura nas páginas da verdade,
Tudo o que existe e não tem fim,
Fortalece a doce saudade,
Beijo da Eternidade em mim.

E tudo o que vês não é submerso...
A imagem que observas é o regresso...

De novo, perto de mim,
Observas o Horizonte,
Se eu, a ti, retornei
Foi da água que bebi na fonte.
Estava escrito nas lajes
Da fonte em que bebi,
O segredo que desvendei
Para repousar hoje, aqui.

Texto de João Garcia Barreto

Fotografia de Vanessa Pelerigo

segunda-feira, janeiro 19, 2009

O Amor Urge no Desconcerto do Mundo



Percorro a solidão das ruas, onde invento os teus passos e a fragrância das tuas mãos e, quando não estás, anseio-te, desenfreadamente, como um louco que só repete as palavras que usas e, mimeticamente, produz os gestos que perduram na miragem que vê e tange.
A noite adormece devagar ao som reproduzido pela leda madrugada, enquanto o meu corpo se arrasta na sua indolência. São horas de regressar ao quarto vazio, onde te escrevo, na ausência dos dias. Não imaginas os poemas e as pautas inuteis que atapetam o chão. Vem... o Amor urge no desconcerto do Mundo...


Texto de João Garcia Barreto
Fotografia de Vanessa Pelerigo

terça-feira, janeiro 13, 2009

A Última a Morrer



"A última a morrer é a esperança.
Por isso é que matá-la, cansa!"

Texto de Paulo Abrunhosa
Fotografia de João Garcia Barreto

sábado, janeiro 10, 2009

Cantiga de Amigo



Nem um poema nem um verso nem um canto
Tudo raso de ausência Tudo liso de espanto

E nem Camões Virgilio Shelley Dante
- O meu amigo está longe
E a distância é bastante.

Nem um som nem um grito nem um ai
Tudo calado Todos sem mãe nem pai
Ah! Não, Camões Virgilio Shelley Dante!
- O meu amigo está longe
E a tristeza é bastante.

Nada a não ser este silêncio tenso
Que faz do amor sozinho o amor imenso.
Calai Camões Virgilio Shelley Dante:
O meu amigo está longe
E a saudade é bastante!

Texto de José Carlos Ary dos Santos
Fotografia de Vanessa Pelerigo

Parabéns, Vanessa. Pela Amizade... Pela Música... Pela Poesia que nos une...

quarta-feira, janeiro 07, 2009

O Amor Não Se Empresta



Escrevo-te, de novo, na ausência dos dias
Onde pernoito devagar...
Doi-me a saudade de te querer em mim...
Revejo-te no que, no leito, não me dizias
E osculo-te sem cessar...
Perco-me na memória por te ansiar assim...

Bebo-te em tragos lentos na contradança
Que forjámos aqui...
Sinto a brisa do teu corpo no quarto deserto...
Espero-te na noite, onde a Lua balança...
Depuro-te no que vivi
E lembro-te na despedida no lugar incerto...

E o tempo que sentes,
Preso no silêncio das mãos prementes
É tudo aquilo que nos resta...
Tu sabes: “O Amor não se empresta...”

Texto de João Garcia Barreto

Fotografia de Vanessa Pelerigo