quinta-feira, outubro 10, 2019

Canção que Somos

Meu Bem, 
nada a não ser o tempo 
que se esvai com o vento 
anuncia o fim da estrada. 
Basta viver o que somos 
e abarcar o que sempre fomos 
quando juntos pensamos em nada. 
Tu sabes, 
o poema que fomos outrora 
e a canção que somos agora 
são a luz que permanece 
na quimera do nosso olhar 
que reluz em qualquer lugar, 
onde tudo ou nada se esvanece 
e eu sei que a vida se faz com vagar 
que o tempo vem e não sabe esperar 
e tudo o que temos 
é o que não vamos largar 
por quem fomos, 
sempre somos 
e seremos a vaguear.

Meu Bem, 

o corpo que não te nego 
e o instante que, hoje, te lego 
são a certeza de que a ilusão 
é assaz difícil de calcular, 
como se fosse possível determinar 
o valor do que lateja no coração! 
Tu sabes
que sou um estranho fado 
de Cohen não saciado 
com mil canções por forjar 
ou um Renoir impressionado 
de semblante aluado 
com a tua silhueta por matizar 
e eu sei que a vida se faz com vagar 
que o tempo vem e não sabe esperar 
e tudo o que temos 
é o que não vamos largar 
por quem fomos, 
sempre somos 
e seremos a vaguear.

@João Garcia Barreto


Aos Meus Pais e ao casal José Covas e Nuno Pombal

Poema registado no IGAC
Autor representado pela Sociedade Portuguesa de Autores