quinta-feira, janeiro 11, 2007

Advogo

Advogo a filantropia,
Não ignoro a caducidade.
Observo o Mundo de noite e de dia
E vejo sempre a claridade.

Não advogo a retórica,
Nada é objecto de persuação.
A política é alérgica à filosofia,
É uma plutocracia sem razão,
Uma demagogia que pantomina
Numa sociedade sem propensão…

Advogo o teu ser,
A tua luz que me ilumina,
A tua arte escondida
Numa quimera genuína…

Advogo o que existe
Na tua mente que incita
O amor que se esconde
Na tua alma inaudita.

Advogo a candura do vento,
Que bafeja o que não é banal,
Nasce nos confins da Utopia,
Suaviza a cegueira infernal
E traça a linha longa do horizonte
Na plenitude do pantanal.

João Garcia Barreto

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Ledo Hiato

De tez macia e lasciva,
Sorris à noite, no quarto, onde matizas a Primavera.
Disseminas, no soalho, as flores que amas
E escreves o adágio na atmosfera.
Semeias o viço das açucenas
E das puras acácias no Universo.
Prendes-me num beijo de uma semibreve
E estendo-me num esteiro de um verso.

E deixas-te ficar no ledo hiato,
Onde bailam anjos num silêncio lauto...

De tule pardo e liso,
Vagueias à noite, no quarto, onde o tempo permanece.
Contornas levemente a sombra que vês
E desenhas a Lua que evanesce.
Semeias o viço dos miósotis
E das puras azáleas na Utopia.
Enleias-me no regaço de um leito de seda
E perduro nos braços da Poesia.

E deixas-te ficar no ledo hiato
Onde bailam anjos num silêncio lauto...

Cedo-te a sidra no remanso dourado,
Cedes-me o suco de essência melada,
Brindamos ao Infinito num só trago...
Bebemos a seiva eternizada
Que produzes no quarto contemplado,
Onde deambulamos de mão dada.

E deixas-te ficar no ledo hiato,
Onde bailam anjos num silêncio lauto...
E deixas-te ficar aqui...

João Garcia Barreto

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Arauto de Éden

De tanto sobrevoar,
Indaguei uma lacuna no Mundo,
Em cada espaço, uma candeia acesa...
Em cada toada, um grito profundo...
Encontrei um postigo aberto
E pousei no seu parapeito,
Soltei um sopro nevado,
Logo, surgiu o teu esgar desfeito.
Porque planges na madrugada?
Porque deturpas a alvorada ?

Sou um arauto de Éden
Que, no teu quarto, veio repousar.
E desvendo o teu horizonte
No esplendor do teu olhar.
Escuta a doce melopeia,
Que sibila dentro de ti,
Torna perene o momento
E a missiva que deixo aqui.

João Garcia Barreto