terça-feira, maio 31, 2005

Dead Man's Rope

Existem canções divinas que são compostas por uma junção perfeita entre a harmonia e a melodia. O estro peculiar de um génio compositor da actualidade é memorável e inefável, o que prova a imensurabilidade das suas obras extraordinárias.

A million footsteps, this left foot drags behind my right
But I keep walking, from daybreak 'til the falling night
And as days turn into weeks and years
And years turned into lifetimes
I just kept walking, like I’ve been walking for a thousand years

Walk away in emptiness, walk away in sorrow,
Walk away from yesterday, walk away tomorrow,

If you're walking to escape, to escape from your affliction
You'd be walking in a great circle, a circle of addiction
Did you ever wonder what you'd been carrying since the world was black?
You see yourself in a looking glass with a tombstone on your back

Walk away in emptiness, walk away in sorrow,
Walk away from yesterday, walk away tomorrow,
Walk away in anger, walk away in pain
Walk away from life itself, walk into the rain

Now I’m suspended between my darkest fears and dearest hope
Yes I’ve been walking, now I’m hanging from a dead man's rope
With hell below me, and heaven in the sky above
I’ve been walking, I’ve been walking away from Jesus' love

Walk away in emptiness, walk away in sorrow,
Walk away from yesterday, walk away tomorrow,
Walk away in anger, walk away in pain
Walk away from life itself, walk into the rain

All this wandering has led me to this place
Inside the well of my memory, sweet rain of forgiveness
I’m just hanging here in space

The shadows fall
Around my bed
When the hand of an angel,
The hand of an angel is reaching down above my bed

All this wandering have led me to this place
Inside the well of my memory, sweet rain of forgiveness
Now I’m walking in his grace
I’m walking in His footsteps
Walking in His footsteps,
Walking in His footsteps

All the days of my life I will walk with you
All the days of my life I will talk with you
All the days of my life I will share with you
All the days of my life I will bear with you

Walk away from emptiness, walk away from sorrow,
Walk away from yesterday, walk away tomorrow,
Walk away from anger, walk away from pain
Walk away from anguish, walk into the rain.


Sting

domingo, maio 29, 2005

E tão só o verde dos teus olhos

E então digo eu
que tinges os meus olhos
castanhos
com o verde dos teus olhos
oceanos
de olhares nascidos
de amor e paixão
e mais de outros sentidos

misturas os teus
cabelos loiros
doirados
nos meus
mais sombreados a lápis
do que eu
matizas minha pele
tão morena
na estampa
da tua tão branca
tão branca

a poesia
é a tua graça que eu amo
o teu encanto
as harmonias que eu tramo
coloridas
as cores
as tuas
as flores
que perfumam o teu garbo
e o gosto
e aquele agrado
mais belo e bem posto
de pura elegância
para mim tão amada
serás minha e para sempre
e tão só
a minha eterna namorada

Fausto Bordalo Dias
in " A ópera mágica do cantor maldito"

quinta-feira, maio 26, 2005

Urgentemente

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

Eugénio de Andrade

terça-feira, maio 24, 2005

A Sombra de um Abraço

Mais uma noite na estrada
São sonhos por navegar
Mil pedaços de nada
Um café deserto ao luar
Um carro louco que passa
Uns faróis que me contam de ti
Nas mãos um copo vazio
Cheio de querer-te em mim

Já não sei se vens
Hoje sei demais
Eu sou a sombra de um abraço
A cada passo que dás
Já não sei se vens
Hoje sei demais...

Chorei as horas perdidas
E os beijos que ficaram no chão
Tantas manhãs numa vida
Tens o destino na mão
Uma cidade cansada
Um céu que te conta de mim
Trazes uns olhos distantes
Tão perto da certeza do fim.

Pedro Abrunhosa

sexta-feira, maio 20, 2005

Palavras Nunca Antes Ditas

Tudo o que se sobressai da utopia que advogo
Não é mais do que um substrato do tempo que vivi,
Como a lágrima vertida na atmosfera onde vogo
Não é mais do que um piano pungente que tange por ti…
E as mãos que, na solidão, se intimidam,
Que se desertificam aquando o tempo evanesce
Não são mais do que as palavras nunca antes ditas
E veladas num âmago isolado que entorpece…

Por isso, vem… que a saudade não desvanece…
Vem… que o tempo permanece…
E prende-me em ti…

Tudo o que se ocultava no silêncio temível
Não era mais do que a soturna certeza
Que teimava em calcular pela matemática falível
Nos teoremas esotéricos da imensurável natureza.
E se, novamente, me vires assim, imerso no pensamento,
Pensa que emergi do livro do cepticismo filosófico
Escrito pelas mãos da poesia na candura do tempo
E do exagero desenfreado de um amor platónico.

Por isso, vem… que a saudade não desvanece…
Vem… que o tempo permanece…
E prende-me em ti…

Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

domingo, maio 15, 2005

Entregues à noite

Qualquer momento é único no tempo... Ontem, conjugou-se a nevralgia com a nostalgia num recinto do Campo Grande e, lá permanecíamos diante de uma imagem projectada na parede caiada que incitava-nos na euforia do tempo que vivíamos até ao momento que quase todos galgámos dos assentos, gritando:" Golo".
Depois, rumámos a uma zona nocturna de Lisboa, fugindo do tumulto no Marquês, onde zombavam impetuosamente ledos lampiões . Estávamos entregues à noite... Foi, decerto, uma noite para comemorar, para unirmos as forças no regozijo e sentirmos o tempo efémero, mas paradoxalmente invertido na forma de eternidade, nas nossas mãos imunes.

A todos os finalistas de Finanças do ISCTE

quinta-feira, maio 12, 2005

Tudo é possível no amor

A que te sabem os meus lábios quando neles se desenha outro dia, marcado pela perfeição da tua pele no meu corpo?
Quando, sobre o silêncio, se constrói a indefinição do amor, perdido entre os versos de tantas palavras que não disse...?

Separo-me de ti.
E tudo é igual ou quase tudo é igual
E nada é a mesma coisa sem ti.

Às vezes suspeito que são os teus passos atrás de mim.
Que é o teu silêncio que se fecha sobre os corredores
E o tempo coalha.

O teu amor espreita o meu corpo de longe.
Os livros, os versos, as flores...

Só ele tem voz e um gesto,
Onde se escreve sem porquê
(Quando pergunto onde estás
E já o sabia
E me sofrias)
Esta dor que não se vê.

Dou-me conta que me faltas
E sinto-me só.

Procuro-te entre as pessoas
E as ruas da cidade
E nada mais faço que esperar
Até que chegues.

Fazes-me falta.

(Quando voltas para me abraçar?)

Olho em volta.
Está tudo como gostas:
O sofá de pele,
A carpete a beijar o chão,
A cama onde nos amamos,
As folhas desalinhadas sobre a mesa da sala,
As revistas de arte e os jornais.

Não sei esperar-te
- talvez amar-te -
Sem que tudo de ti seja meu
Porque és tão único como a poesia e coisas assim,
Porque é impossível a extensão das palavras
Nas asas de um pássaro.

Porque tudo é possível no amor.
Como tu, para sempre, em mim.

Vanessa Pelerigo

Poema gentilmente cedido pela autora.

quinta-feira, maio 05, 2005


"Murmurizar" - Pintura a lápis de cera sobre serigrafia baseada no texto " A Melopia da Lua" e gentilmente cedida pela autora Cristina Huertas Posted by Hello

segunda-feira, maio 02, 2005

A Melopeia da Lua

Não há dias nem noites sem fim no Mundo, mas, de facto, todos os dias e noites são perenes em Éden. Os anjos não possuem relógio ou outro tipo de bens materiais que controlam o tempo, pois, simplesmente, usufruem de poderes feéricos e idóneos de eternizar momentos.
E num dia sem fim, o silêncio de Lisboa estendia-se pela madrugada, onde sobrevoava de asas implumes sem destino. Pressenti um lamento de uma criança oriundo de um quarto qualquer, aquando a cidade se abrigava nos enormes braços da Lua.
Persegui o som pueril já entranhado em mim e descobri um postigo aberto, onde pousei. Espreitei sorrateiramente e encontrei-a envolta nos lençóis do leito, onde plangia desenfreadamente. A criança assustou-se aquando viu um vulto que nunca tinha observado. Pedi-lhe que se acalmasse, estendendo a minha mão imune e, logo, o seu tormento estagnou.
Perguntei-lhe o seu nome e, abruptamente, respondeu-me que se chamava João. Revelou-me que, naquela noite, os seus entes queridos discutiram fervorosamente e, logo, percebi a vil tristeza que nele se acomodava. Acalmei-o para não se preocupar, assegurando que nada iria acontecer após o sucedido.
À medida que o tempo passava, o João ficava mais sereno… Interpelou-me no intuito de querer saber quem era e, de seguida, segredei que era um anjo noctívago, filho da Areia e do Mar, que sobrevoava os cantos da noite que o Mundo teimava em ocultar e revelei os poderes feéricos que possuía e a missiva esotérica que transportava. João ficou fascinado com aquilo que contava. O seu olhar radiava… Pedi-lhe que não revelasse o segredo, pois a sua magia dissipava-se no tempo e nem a memória conseguiria salvaguardá-lo. Receosamente, João prometeu-me que não revelava a missiva nem sequer os poderes feéricos que possuía e regressou ao leito, cobrindo-se com os lençóis, onde entorpeceu na acalmia da madrugada. Despedi-me, aquando fechou os olhos, sussurrando: “Eu sou o Sibilante e eu e tu somos iguais…” Enfim, parti, assobiando baixinho a melopeia que a Lua me ensinou.
Aquando despertou, João encontrava-se mais ledo, pois tudo se serenou no novo dia e, sem perceber, sibilava a mesma melopeia.

João Garcia Barreto

domingo, maio 01, 2005

O Menino da sua Mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
– Duas, de lado a lado –,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
É boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

Fernando Pessoa