sexta-feira, abril 25, 2008

Viva a Liberdade

A primeira senha:

E Depois do Adeus

Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós

Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós

José Niza

A segunda senha:

Grândola Vila Morena

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade
Grândola, a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

José Afonso


Outros poemas, outras canções de Abril:

Trova do Vento Que Passa

Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu país
E o vento cala a desgraça
O vento nada me diz
O vento nada me diz


Pergunto aos rios
Que levam tanto sonho à flor das águas
E os rios não me sossegam
Levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
Ai, rios do meu país
Minha pátria à flor das águas
Para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
Pede notícias e diz
Ao trevo de quatro folhas
Que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
Por que vai de olhos no chão.
Silêncio, é tudo o que tem
Quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos direitos
E ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
Ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
Nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
Dos rios que vão pró mar
Como quem ama a viagem
Mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(Minha pátria à flor das águas)
Vi minha pátria florir
(Verdes folhas verdes mágoas).

Manuel Alegre

A Cantiga É Uma Arma

A cantiga é uma arma
E eu não sabia
Tudo depende da bala
E da pontaria
Tudo depende da raiva
E da alegria
A cantiga é uma arma
De pontaria.

Há quem cante por interesse
Há quem cante por cantar
E há quem faça profissão
De combater a cantar
E há quem cante de pantufas
Para não perder o lugar.

A cantiga é uma arma
E eu não sabia
Tudo depende da bala
E da pontaria
Tudo depende da raiva
E da alegria
A cantiga é uma arma
De pontaria.

O faduncho choradinho
De tavernas e salões
Semeia só desalento
Misticismo e ilusões
Canto mole em letra dura
Nunca fez revoluções

A cantiga é uma arma
Contra quem?
Contra a burguesia
Tudo depende da bala
E da pontaria
Tudo depende da raiva
E da alegria
A cantiga é uma arma
De pontaria

Se tu cantas a reboque
Não vale a pena cantar
Se vais à frente demais
Bem te podes engasgar
A cantiga só é arma
Quando a luta acompanhar.

A cantiga é uma arma
Contra quem?
Contra a burguesia
Tudo depende da bala
E da pontaria
Tudo depende da raiva
E da alegria
A cantiga é uma arma
De pontaria

Uma arma eficiente
Fabricada com cuidado
Deve ter um mecanismo
Bem perfeito e aliado
E o canto de uma arma
Deve ser bem fabricado

José Mário Branco


Viva a Liberdade...

Obrigado a todos aqueles que lutaram pela liberdade de expressão, de agir, de lutar e de sonhar...

Aos neófitos da minha tenra idade, deixo o seguinte alvitre: Atenção! Cuidado com o abuso da Liberdade. Não destruam o que a geração de Abril conquistou por nós...

sexta-feira, abril 18, 2008

No Voo de Um Anjo

Da janela do quarto,
A tua fobia suspirava...
Esperavas pelo anjo,
Que tardava.
E, dos jardins de Éden,
Irrompe num voo inaudito,
O anjo que aguardavas
No teu lugar interdito.

E, no silêncio do quarto,
Só o teu esgar não negou
A Eternidade de um beijo
De quem ao momento se entregou.
E, com o desvelo de um abraço
De um anjo eterno que voou,
Imunizaste no leito
O amor que, no quarto, deixou.

No voo de um anjo,
Onde flutuavas,
Desarvorou a dolência
Que tanto exorcizavas.
E, no parapeito do postigo,
Lá se despediu
O teu anjo perene
Que só o teu olhar viu.

João Garcia Barreto


A canção pode ser escutada aqui

sábado, abril 12, 2008

Canto Moço

Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nós vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor no ramo
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nós vamos
À procura da manhã clara

Lá do cimo duma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo duma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos pela noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca

José Afonso