segunda-feira, dezembro 16, 2019

Fazedor de Canções

Em Londres sempre chove
quando o pêndulo se move
e o frio é tão voraz
que regela a escuridão
sobre a cidade da ficção,
onde tudo é fugaz
e um afamado trovador
já prolifera o amor
que escreve no folhetim
à espera que a tua mão
se abra num só refrão,
cantado no teu jardim.

Fecha bem a porta à solidão
e não te apegues às desilusões.
Dá, então, abrigo ao coração
de um fazedor de canções

É certo que há razão
por que palpita o coração
de um ávido poeta
que não teme o abismo
e antevê o cataclismo
com a ponta da caneta,
gosta de cambiar o Mundo
e em apenas um segundo
parte e deixa a sua metade
e não haverá uma hecatombe
nem uma alma só que zombe,
porque regressa na saudade.

Fecha bem a porta à solidão
e não te apegues às desilusões.
Dá, então, abrigo ao coração
de um fazedor de canções.

@João Garcia Barreto


Poema registado no IGAC
Autor representado pela Sociedade Portuguesa de Autores

https://linktr.ee/eusouogarcia

terça-feira, novembro 05, 2019

O Amor Não se Empresta

Escrevo-te, de novo, na ausência dos dias,
onde pernoito devagar.
Dói-me a saudade de querer-te em mim.
Revejo-te no que no leito não dizias
e beijo-te sem cessar.
Perco-me na memória por te ansiar assim.

Bebo-te em tragos lentos na contradança
que forjámos aqui.
Sinto a brisa do teu corpo no quarto deserto.
Espero-te na noite, onde a Lua balança,
depuro-te no que vivi
e lembro-te na despedida no lugar incerto

e o tempo que sentes
preso no silêncio das mãos prementes
é tudo aquilo que nos resta,
tu sabes, o Amor não se empresta.

@João Garcia Barreto

Poema registado no IGAC
Autor representado pela Sociedade Portuguesa de Autores

quinta-feira, outubro 10, 2019

Canção que Somos

Meu Bem, 
nada a não ser o tempo 
que se esvai com o vento 
anuncia o fim da estrada. 
Basta viver o que somos 
e abarcar o que sempre fomos 
quando juntos pensamos em nada. 
Tu sabes, 
o poema que fomos outrora 
e a canção que somos agora 
são a luz que permanece 
na quimera do nosso olhar 
que reluz em qualquer lugar, 
onde tudo ou nada se esvanece 
e eu sei que a vida se faz com vagar 
que o tempo vem e não sabe esperar 
e tudo o que temos 
é o que não vamos largar 
por quem fomos, 
sempre somos 
e seremos a vaguear.

Meu Bem, 

o corpo que não te nego 
e o instante que, hoje, te lego 
são a certeza de que a ilusão 
é assaz difícil de calcular, 
como se fosse possível determinar 
o valor do que lateja no coração! 
Tu sabes
que sou um estranho fado 
de Cohen não saciado 
com mil canções por forjar 
ou um Renoir impressionado 
de semblante aluado 
com a tua silhueta por matizar 
e eu sei que a vida se faz com vagar 
que o tempo vem e não sabe esperar 
e tudo o que temos 
é o que não vamos largar 
por quem fomos, 
sempre somos 
e seremos a vaguear.

@João Garcia Barreto


Aos Meus Pais e ao casal José Covas e Nuno Pombal

Poema registado no IGAC
Autor representado pela Sociedade Portuguesa de Autores

segunda-feira, setembro 23, 2019

Cigarra no Outono

Faço-me, hoje, à estrada
como quem tem nada
e ousa cotejar o vento.
A sorte é de quem sonha
e a desdita é peçonha
para quem não lê o tempo.
"A gente vai continuar",
canta o Palma sem cessar
e dou tréguas à solidão.
Vou já na valsa da vida
sem pejo nem medida
(não tem métrica uma canção)
e só espero encontrar
o esplendor do teu olhar.

Deixo-me ir na travessia

como quem abraça o dia
e se afasta da torrente.
O relógio não cessa,
mas vivo sem pressa
na urgência de quem sente.
O Dylan a sussurrar
e o Inverno a chegar!
É certo que esperas por mim.
Como a cigarra no Outono,
cantarei no teu sono
melodias de amor sem fim
e só espero desvendar
o esplendor do teu olhar.

E se o tempo é o chão

onde desbravo a canção,
eu hei-de abraçar-te, enfim.
Como a cigarra no Outono,
pousarei no teu sono,
onde já suspiras por mim
e só espero contemplar
o esplendor do teu olhar.

@João Garcia Barreto

Poema registado no IGAC
Autor representado pela Sociedade Portuguesa de Autores