terça-feira, fevereiro 15, 2011

Ledo Hiato

De tez macia e lasciva,
Sorris, no quarto, onde matizas a Primavera.
Dispersas, no soalho, as flores que amas
E escreves o adágio na atmosfera.
Semeias o viço das açucenas
E das puras acácias no Universo.
Preso no beijo de uma semibreve,
Estendo-me no esteiro de um verso.

E deixas-te ficar no ledo hiato,
Onde bailam anjos no silêncio lauto...

De tule pardo e liso,
Vagueias, no quarto, onde o tempo permanece.
Traças levemente a sombra que vês
E desenhas a Lua que esvanece.
Semeias o viço dos miósotis
E das puras azáleas na Utopia.
Enleado no regaço de um leito de seda,
Perduro nos braços da Poesia.

E deixas-te ficar no ledo hiato,
Onde bailam anjos no silêncio lauto...

Cedo-te a sidra no remanso dourado,
Cedes-me o suco de essência melada,
Brindamos ao Infinito num só trago...
Bebemos a seiva eternizada
Que produzes no quarto contemplado,
Onde deambulamos de mão dada.

E deixas-te ficar no ledo hiato,
Onde bailam anjos no silêncio lauto...
E deixas-te ficar aqui...

Texto de João Garcia Barreto