sexta-feira, outubro 29, 2004

Tudo o que eu te dou, tu me dás a mim

Sempre que escuto esta canção, debruço-me sobre o sentido da vida. Talvez seja a acção recíproca que se estende no verso principal da canção: “Tudo o que eu te dou, tu me dás a mim...”. O que é verdade é a forma como tu me afagas neste mundo cada vez mais iníquo, oferecendo-me a essência da vida como armadura para me sentir salvaguardado. Resta-me, assim, manifestar o meu profundo agradecimento, oferecendo-te o tempo evanescente, mas paradoxalmente invertido em forma de eternidade.
E é importante a reciprocidade dos sentimentos no meio envolvente... Hoje, a reciprocidade dos sentimentos extingue-se fugazmente, enquanto que o Mundo se esquece que é nas suas lacunas que ela perdura. Indago em cada lacuna do Mundo o amor espalhado por algum Messias redentor. Sigo sozinho o meu caminho, escutando a toada que sibila dentro de mim, cuja melodia é longa e serena.
Neste antro de promiscuidade, a ínfima coisa com idoneidade de transfigurar o tempo é o que existe em ti e que te corrobora - a indulgência.
Confesso-te que o teu jeito angelical é mágico... Colocas a Lua nas noites escuras para que ilumine os trilhos já traçados. Em dias pardacentos, surges na bruma como se fosses D.Sebastião... E o único modo de te agradecer é ser recíproco... Nasci no peito de amor de um rei... Sempre terás tudo aquilo que me ofereceste...

Obrigado, Pai.

segunda-feira, outubro 25, 2004

Cruz Alta

"Cruz Alta" é o galarim da serra de Sintra, sito no parque coutado do Palácio da Pena. Quem tiver a honra de o visitar, poderá desfrutar da beleza natural, que o rodeia. É um refúgio dedicado aos poetas, aos mais românticos e aos amantes da fotografia, que oferece estro, magia e o ar genuíno da atmosfera sérrea.


Ficou a promessa
Onde o Céu se une com a Terra,
Tão perto da Lua que regressa
Aos encantos do palácio e da serra.

Ficou a promessa
Lá no cume onde Deus pousou,
Tão perto do Sol que regressa
Aos braços de quem o ressuscitou.

E só a morte, por ser forte,
Matará o sonho
Preso naquele lugar.
E só a morte, por ser forte,
Matará quem
Viu ali o teu olhar.


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

terça-feira, outubro 19, 2004

Será que existe censura?

Há uns tempos atrás, o “Público” editou uma efeméride abominável, onde revelava o facto de um insigne compositor ter sido desconvidado para a inauguração do novo espaço cultural do Porto pela própria administração do local. Segundo consta no artigo, o compositor irreverente foi alvo de repúdio, devido às declarações que tinha proferido anteriormente contra o actual presidente do município portuense. Mais tarde, dois comentadores mediáticos foram intimidados a moderar os seus próprios discursos pelo presidente da estação de televisão que representavam, o que levou à evasiva de um dos comentadores. Parece que o presidente da estação de televisão foi obrigado por coacção a actuar de tal forma pelo Exmo. Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares.
Já não bastava a exoneração dos benefícios fiscais dos planos de poupança decretada pelo Exmo. Sr. Ministro das Finanças, o que enfraquece a parcimónia exercida pelos cidadãos comuns? Já não bastava a implementação de taxas moderadoras nos estabelecimentos de saúde ou a criação de novas portagens? Já não bastava a existência de três tipos de professores: os colocados, os não-colocados e os mal colocados? Já não bastava as verborreias proferidas pelos políticos demagogos, populistas e anti-democratas do “continente” e do arquipélago da Madeira? Ao menos, cá nos contentávamos só com isso… Não, só isso não chega… Censuraram quem não se calava… Será que retornámos à repressão exercida pelos regimes fascistas de António Oliveira Salazar e Marcello Caetano? Eis o regresso da censura a Portugal…Escusava de hiperbolizar, mas a conjuntura política não me oferece outra alternativa…
De facto, existem pessoas retrógradas e acéfalas, autênticos lacraus fúteis, que deviam ser urgentemente exonerados do lugar que ocupam. Isto é a evidência de que existe um autêntico absentismo de dignidade e respeito pelo português democrata – aquele que elege por sufrágio nacional. Talvez o Exmo. Sr. Presidente da República perceba que fomos de mal a pior…
No entanto, o vulgo português vinga-se do flagelo económico com o “reality show”, onde deambula um hermafrodita mirabolante, que se pavoneia diante das câmaras. Eis o “estado” em que sobrevivemos…

sábado, outubro 16, 2004

A Sombra do Beijo

Escrevi este poema a pedido de um manager insigne, que ainda hoje se enquadra no júri de um programa de uma estação de televisão privada. O gestor de carreiras musicais pretendia que o poema fosse integrado numa melodia já forjada por um finalista da 1ª. versão do mesmo programa. Segundo o manager, a letra escrita pelo neófito do programa televisivo não passava de um registo de verborreias criadas por um "azeiteiro". À posteriori, aquilo que constatei era inexoravelmente exíguo. No entanto, o jovem cantor repudiou a minha gentil dádiva. Talvez o meu poema não tivesse também o devido valor...


De mãos dadas, vagueamos na rua
Presos às palavras que ambos dizemos...
Nem sequer notamos que o momento que se oculta
É o refúgio daquilo que ambos sabemos...

Será a sombra do beijo
Que, no silêncio, se quer soltar?
Será a sombra do beijo?

Desvendamos segredos escondidos no pó,
Enquanto passeamos no outro lado do Mundo.
E o tempo prende-se na solidão das palavras
Como se fosses Princesa e eu, vagabundo...

Será a sombra do beijo
Que, no silêncio, se quer soltar?
Será a sombra do beijo?

As horas passam e os minutos evanescem,
Enquanto realçamos o que ambos sabemos.
E os sorrisos fugazes que desaparecem
São a senha daquilo que juntos seremos...

Será a sombra do beijo
Que, no silêncio, se quer soltar?
Será a sombra do beijo?


Poema registado na Sociedade Portuguesa de Autores

terça-feira, outubro 12, 2004

Doce Ensejo

Uma canção é uma dança entre duas vertentes estrógenas, que se coadunam. É uma espécie de magnetismo entre a Música e a Poesia... Um poema surge do ensejo que se insurge no silêncio e, em cada palavra sua, vela-se uma semínima escrita numa partitura... Sibilo as palavras que crepitam no coração e escrevo-as numa folha em branco eterna, onde revelo o doce ensejo...


Insurge-se o ensejo no silêncio do tempo
E a mão aberta que se quer fechar,
Enquanto dançamos na avenida
Antes da manhã regressar.

Desvendo o desejo que se oculta em ti
Na solidão das palavras que recitas
E prendo-me nas teias dos sorrisos
Que, na avenida, dissipas.

E a noite evanesce...
E o tempo permanece em mim...

E se a Lua adormecer,
Sei que me beijas ao amanhecer...
E se o Sol despertar,
Sei que a mão se vai fechar...

Sibila na avenida o doce desejo,
Que se oculta no sopro do vento
E persigo as palavras que soltas
E que balançam no momento.


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

sábado, outubro 09, 2004

Advogo

Observa-se a genuína retórica endógena dos principais intervenientes da conjuntura política portuguesa. Talvez estejamos novamente diante de um estado de repressão... A censura instalou-se de novo em Portugal... Alguém me leve abruptamente daqui...


Advogo a filantropia...
Não ignoro a caducidade,
Observo o Mundo de noite e de dia
E vejo sempre a claridade...

Não advogo a retórica,
Nada é objecto de persuação...
A política é alérgica
À filosofia da razão...

Advogo o teu ser,
A tua luz que me ilumina
Como a tua arte
Escondida que me fascina...

Advogo o vento
Que sopra a melodia natural,
Não sendo concebida à pressão,
Apresenta-se num momento casual...


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

segunda-feira, outubro 04, 2004

Beijo da Eternidade

Eis a hora do regresso... Preparo o meu leito alado e implume para retornar ao lugar, onde te desvendei...onde eternamente repousarei...


Tudo o que vejo não é miragem,
Tudo o que desvendo na minha alma
Perdura na essência da imagem
Do Mar que nos acalma.
Tudo o que sinto na realidade,
O que armazeno na arca sincera ,
Transfigura a doce saudade
Numa rosa da Primavera.
Tudo o que em mim flameja,
Tudo o que em mim é fecundo,
É a Música que me beija
Numa lacuna do Mundo
Tudo o que perdura nas páginas da verdade,
Tudo o que existe e não tem fim,
Fortalece a doce saudade,
Beijo da Eternidade em mim.

E tudo o que vês não é submerso...
A imagem que observas é o regresso...

De novo, perto de mim,
Observas o Horizonte,
Se eu a ti retornei
Foi da água que bebi na fonte.
Estava escrito nas lajes
Da fonte em que bebi,
O segredo que desvendei
Para repousar hoje, aqui.


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores

sexta-feira, outubro 01, 2004

No Voo de um Anjo

Recolho as palavras inauditas, que se velam num baú, libertando-as num pedaço de papel em formato de poesia, onde traço o sonho... E a música surge da aglutinação entre a melodia das palavras e a harmonia que a envolve... Da atmosfera nocturna, surge o anjo, que une o sonho com a realidade. Libertem a música que se oculta endogenamente em vós e subam a escada da vida, degrau a degrau, com a realidade no olhar e o sonho no coração. "How wonderful life is while you're in the world"... Com um verso de Bernie Taupin, escrito num poema eternizado por Sir Elton John, homenageio a sublime vertente artística - Música.


Da janela do quarto,
A tua fobia suspirava...
Esperavas pelo anjo,
Que tardava.
E dos jardins de Éden,
Irrompe num voo inaudito,
O anjo que aguardavas
No teu lugar interdito.

E no silêncio do quarto,
Só o teu esgar não negou
A Eternidade de um beijo
De quem ao momento se entregou.
E com o desvelo de um abraço
De um anjo eterno que voou,
Imunizaste no leito
O amor que, no quarto, deixou.

No voo de um anjo,
Onde flutuavas,
Desarvorou a dolência
Que tanto exorcizavas.
E no parapeito do postigo,
Lá se despediu
O teu anjo perene
Que só o teu olhar viu.


Canção registada na Sociedade Portuguesa de Autores