sábado, dezembro 27, 2008

Arte - O Sémen do Amor Mundano



A Arte é a palavra que respira no dicionário,
Que se esmera num livro de poesia.
É a sílaba pronunciada no silêncio plenário,
Que a natureza demonstra por magia.

É o gemido de um piano sonâmbulo,
Que persegue, na noite, o sonhador.
É uma sóbria aresta de um triângulo,
Que a trigonometria desvenda sem pudor.

A Arte é uma lágrima no oceano
Dissipada por um anjo enfadonho;
É o sémen do amor mundano
Plantado nas planícies do sonho.

A Arte é a palavra transfigurada numa rosa,
Que transcende os feitiços do anoitecer.
É a casta beleza da poesia narrada em prosa,
Que interpela o sonhador ao amanhecer.


Texto de João Garcia Barreto

Fotografia de Autor Desconhecido

Um poema escrito no ano 2004

terça-feira, dezembro 23, 2008

Legado pelo Inverno

Inverno não era mais do que um estrangeiro que estagiava em Lisboa durante três meses na era habitual e andava sempre ao ritmo do pêndulo de um relógio. Anunciou a sua chegada com o seu jeito genuíno, despedindo-se do Outono e assustando a velha cigarra. Parece que degustava o primeiro dia que passava no âmago lisbonino.
No dia seguinte, acordou tarde. Sentia-se um torpor indolente. Pegou na pequena alcofa que acarretou do Universo e abraçou o dia. Deambulou no Chiado que estremecia ao vê-lo passar e parou n’A Brasileira, onde cavaqueou com o poeta que se deleitava, como sempre, sentado à mesa da esplanada:
- Falta cumprir-se Portugal! – dizia incessantemente o poeta.
- Deves ter razão, caro amigo – respondia, desta forma, o Inverno.
O dia anoiteceu e o Inverno abandonou o poeta que insistia na mesma afirmação. Desceu pela Rua Garrett em direcção ao Rossio e passou as últimas horas na Avenida da Liberdade.
De madrugada, entrou sorrateiramente na maternidade, sibilando uma canção de embalar. Colocou minuciosamente a pequena alcofa numa cadeira junto à mesa de cabeceira do quarto que, fortuitamente, escolheu e pousou o rebento nos longos esteiros de uma mulher.

João Garcia Barreto

Aos meus pais pelo nascimento do primeiro filho...

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Pedaço de Papel



As palavras escasseiam neste pedaço de papel nu. O que fazer, quando existem inúmeras coisas por dizer? O que dizer, quando a saudade contorna a ternura da candura do teu olhar em mim? A alma revela-se, inefavelmente, na terna ausência, onde respiro o ar legado pela atmosfera, enquanto este pedaço de papel se transfigura num simples gesto. E os sonhos corroboram a filantropia que transborda de mim. O que fazer, quando há mil e uma coisas por esbanjar? O que dizer, quando a eternidade tatua o tempo na alma doce e calma? O âmago imuniza, indelevelmente, o beijo e o abraço do regaço de quatro noites demoradas, enquanto este pedaço de papel é tudo aquilo que possuo para te lembrar...

Texto e Fotografia de João Garcia Barreto

terça-feira, dezembro 02, 2008

Parte de Mim


@Avenida dos Aliados - Porto

Onde estiveres, eu estou
Onde tu fores, eu vou
Se tu quiseres
Assim,
Meu corpo é o teu mundo,
Um beijo um segundo,
És parte de mim.

Para onde olhares
Eu corro,
Se me faltares
Eu morro
Quando vieres,
Distante
Solto as amarras,
E tocam guitarras por ti como dantes.

Agarra-me esta noite,
Sente tempo que eu perdi,
Agarra-me esta noite,
Que amanhã não estou aqui,
Agarra-me esta noite,
Sente tempo que eu perdi,
Agarra-me esta noite,
Que amanhã não estou aqui.

Texto de Pedro Abrunhosa
Fotografia de João Garcia Barreto