sexta-feira, dezembro 24, 2004

Natal

Quem acredita ainda em seres criados por empresas magnificientes como os célebres Pai Natal e Leopoldina, que alimentam as crianças com ilusões, desiluda-se... O Pai Natal é demasiado alentado e não cabe na chaminé e as avestruzes não sabem voar... O Mundo é atroz, soturno e só nós, camaradas "bloguistas", podemos salvá-lo com o nosso revólver estrógeno. Será que alguém sabe o que tacitamente transmite o Natal? Poucos detêm esse conhecimento... Uns preocupam-se com o orçamento, aproveitando o que vários portugueses acumularam durante a sua vida profissional, de modo a não violar o que está pré-estabelecido para a estabilidade da comunidade europeia e outros preocupam-se em fazer demagogia. Belo Mundo em que vivemos... Dissipem beijos e abraços álacres e feéricos, evidenciando o que realmente sentem e promovendo o genuíno significado do Natal.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Pêndulo

Parece que faz hoje 23 anos que pousei pela primeira vez nos braços da magnanimidade de dois seres inauditos. Nasci num berço abençoado... Nos tempos em que a minha rebeldia se manifestava desenfreadamente,os dois seres inauditos enfrentavam mágoas provocadas pela ingenuidade da genuína juventude em que julgava que superava todos os embargos causados pela vida na ausência de auxílio. Ocultavam máculas oriundas do céptico amor que não se definia na minha mente ainda pueril. Hoje, calcorreio as ruas de Lisboa absorto nesse tempo atroz. Mas, caro João, o pêndulo continua a regular o movimento do relógio e o amor perdura nos âmagos dos seres sublimes que te perfilham... Num beijo álacre cedido pela rainha mais bela do Universo e num abraço apertado de um rei benigno, sinto o etéreo perdão no meu genuíno coração...

Muito Obrigado

domingo, dezembro 19, 2004

Aerograma

Deus queira que esta
Vos mate a fome aos sentidos
Por agora

Deus queira que esta
Vos guarde a dor aos gemidos
Noite fora

Dançamos fandangos
Sobre uma navalha
Pássaros em bando
Em nuvens de limalha

E assim eu cá vou indo.

Vem-me o fel à boca
As tripas ao coração
A noite traz a forca pela sua mão

Sonho com fantasmas
De pele preta e luzidia
Com manuais de coragem e cobardia

Dizem que há sempre
Um barco azul para partir
Nosso hino
Embarca a alma
E os restos de um rosto a sorrir
Do destino

Põe o meu retrato
No altar de S. João
E uma vela com formato de canhão

Cansa-se esta escrita
Com dois dedos num baraço
Assim o quis a desdita
Vai um abraço.

João Monge

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Perguntas de um Operário Letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis.
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas reconstruiu? Em que casa
Da Lima dourada moravam os seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China
Para onde foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias.
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a Guerra dos Sete Anos.
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas...

Bertolt Brecht
( Selecção e estudo de Arnaldo Saraiva )

terça-feira, dezembro 07, 2004

O Poema Original

Não sou poeta... Simplesmente, aventuro-me no universo das palavras...

Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutra pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse ao abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever em sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte
faz devorar em jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce à rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chega ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.

Esse que despe a poesia
como se fosse mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.

José Carlos Ary dos Santos

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Águia-Real

Madrugara do galarim da serra,
A Águia-Real que se esmerava no firmamento
E que acompanhava o voo do rapino.

Modulou à noite no confim da Terra,
A melodia que embalava o seu rebento
E que desvendava a rota do seu destino.

Madrugará sempre do galarim da serra,
A Águia-Real que gerou o portento
E que, sublime, desfilará no plaino divino...


A quem dedico o poema? Não, é dificil...