sexta-feira, junho 03, 2005

O Revólver

Numa sociedade inexorável, em que tudo parece ser frívolo, geram-se, por vezes, situações nevrálgicas que melindram os âmagos dos seres humanos. Já não bastava o stress ignóbil que habita no turbilhão do trabalho do dia-a-dia, há quem decida dilatar os impostos, fustigando indubitavelmente a maioria dos lassos contribuintes e corroborando o fausto dos individuos opulentos. E, por não existir um Robin dos Bosques para usurpar aos ricos para legar aos pobres, naturalmente que isto origina uma alteração inevitável dos sistemas nervosos das pessoas e, como é complicado gerir determinadas situações, provoca convulsão e desavenças inusitadas nos seus lares. Logo, não há silêncio nem pensamento que valha nestas horas derradeiras, já que as pessoas tendem a contundir ingenuamente aqueles que mais amam.
No entanto, só o Amor destrói o revólver da sociedade que nos intimida... Talvez a solução destes teoremas complexos seja a inutilização do mal que se escuta ou do mal que se vê, deixando a escumalha que nos macula fora do lar e imunizando nele o Amor que sempre poderá servir-nos como armadura.

Quando nos disparamos do que somos
quando nos encantamos e seguimos
o contido estampido do silêncio
que nos rebenta dentro dos ouvidos
a corola pistola o suspiro do tiro
já não nos basta a bala da palavra
o gatilho dos dedos
o alvo do sentido.

Trincamos uma pétala de cor
e matamos no cheiro duma flor
cinco sentidos unidos.

José Carlos Ary dos Santos

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