terça-feira, abril 05, 2005

Viagem

Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).

Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar."

Miguel Torga - 1962

2 comentários:

Folha|em|Branco disse...

Partir, à descoberta de tudo o que não acontece se ficarmos...

sombra_arredia disse...

E importa tanto ter a coragem pra sair do que conhecemos...e é tanto o regojizo de sabermo-nos libertos do medo de não ficar.