quinta-feira, janeiro 26, 2006

Corações Periféricos

Na cidade dormitório
Onde o sol se põe cinzento
E o bel-canto da cigarra
Jaz mudo sob o cinzento

Quando a noite cai sombria
Com seus ténues lampadários
Luzindo na simetria
Dos novos bairros operários

O meu coração vadia como um lobo solitário
Na tristeza de um subúrbio

Pinto apelos em murais
Esfumo a noite em olheiras
Deslizo na hora do lobo
Sigo o rastro das padeiras

Afio as minhas armas brancas
Nas esquinas de metal
Cravo-as bem fundo nas ancas
Da cintura industrial

O meu coração vadia como um lobo solitário
Na tristeza de um subúrbio

Silva a hora do comboio
Treme na erva o orvalho
Corações da outra banda
Apressam-se para o trabalho

Com olhos mal acordados
Brilho vestido ao contrário
Como peixes alucinados
Às voltas no seu aquário

O meu coração vadia como um lobo solitário
Na tristeza de um subúrbio

Carlos Tê

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá João!

Obrigada por teres escolhido esta música, fiquei agradavelmente surpreendida... encontrei o teu blog por acaso, ainda não o vi com muita atenção, confesso! Mas "Corações Periféricos" é uma paixão antiga, daquelas que permanecem e se intensificam...
Desculpa por ter tomado a liberdade de "invadir" o teu espaço, parabéns pelo bom gosto!! :o)

Tudo de bom!
Beijito