sexta-feira, setembro 03, 2004

O Eufemismo da Memória

Há uns tempos atrás, descobri o estro escondido em mim. Comecei a dedicar-me à Arte, compondo canções relacionadas com o quotidiano ou com situações subjectivas. Além de ser um refúgio, a Arte é o subterfúgio que desvendei e utilizo para me abstrair dos maus vícios da sociedade. Assiste-se todos os dias nos noticiários a mais uma conjuntura política. É tão grande a coincidência dos factos, que só mesmo um eufemismo poderá suavizar o que ocorre na política portuguesa, que cada vez mais se distingue da filosofia. Acredito que os pensamentos de Sócrates ( filósofo grego )redigidos por Platão na sua obra literária, Górgias, são cada vez mais actuais. A política assemelha-se à retórica ou à submissão excessiva da actuação dos seus responsáveis ao agrado do vulgo, que já não é quem mais ordena. E mesmo as baladas do meu querido Zeca Afonso, que mimeticamente utilizo como fonte de inspiração para compôr as minhas espécies de canção, estão também mais actuais... "Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada..."
Bem... são tantas os factos pejorativos da nossa sociedade, que materializam a história do nosso país. Dessa forma, escrevi uma canção, que exprime o meu descontentamento pela forma como é conduzida a política de Portugal:


Sei que desdenho o que é inútil
E a sabedoria de um lacrau fútil,
Que esbanja demagogia
Nos dias de romaria...
Sei que desdenho o lugar
Onde se perde tempo a escutar
As verborreias tão exíguas
Ditas por mentes não ambíguas...

Sei que desdenho o consumismo
Que corrobora o materialismo
E toda a instância do Poder
Que transfigura o ser...

Isto é só o materialismo da história,
O eufemismo da memória...

Ai, Portugal, por onde me levas?

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